O dia seguinte amanheceu cinza. Cinza porque a dúvida era soberana à certeza, ninguém estava nem onde nem com quem pensava estar; mas todos buscavam a mesma coisa: explicações e consequentemente Johnny Fun. Cinza porque chovia.
Era o céu cinza que Johnny via pela janela do refeitório. Tomava uma sopa gelada, sentado de pernas cruzadas, sozinho numa das mesas metálicas, olhando intrigado a televisão de tela azul estática, aguardava um barulho, um sinal, somente isso, mas nesse dia o Estado não acordara, a Inteligência não acordara, somente Johnny e seria mentira dizer que ele se sentia mal por isso.
Não demorou para que ouvisse Andy passar pelas portas prateadas e se juntar a ele. Ainda não era o som aguardado, mas mesmo assim ofereceu:
-O que achou dos bolinhos ontem? Não disse que toda aquela erva e aqueles cogumelos funcionariam? - E deixando cair a sopa da colher erguida ofereceu-a com um gesto da mão – Sopa?
Mas sendo a resposta um olhar desprovido de diversão ele continou:
-E então, deu certo?
-Sim e não. Como você disse, mais duas mortes, pelo que verifiquei ninguém conhecia os dois, raramente saiam do prédio principal, quando o faziam era para comer. Já enterrei-os no campo. Infelizmente não cheguei a tempo de pegar o assassino. - A última frase, contudo, era mais para o próprio Andy que para Johnny.
-Sneer já era, chegou nossa hora. - Antes que pudessem brindar com suco de caju, uma voz cortou o ar, fazendo os dois se virarem imediatamente para a televisão não mais azul; agora um homem coberto de cicatrizes, careca e com um tapa-olho mal colocado ocupava a tela:
-Bom dia St. Jimmy! Como vão?
-Não vamos – respondeu desafiadoramente Johnny.
-Ah, sr. Fun, que bom vê-lo – havia cinismo claro na voz e no sorriso amarelo que o homem abriu – como vão as buscas?
-Não vão, mais alguma coisa?
-Ora, sei que é um prazer me ver também, sr. Fun. Onde estão seus colegas, de ressaca da última festinha ainda? - Ao dizer essa palavra o homem ergueu os dois indicadores e agitou-os toscamente.
-Não me importa, é a primeira vez que da o ar de sua graça? - Ele já sabia a resposta, no entanto a pergunta era necessária. Fixou os olhos determinados no homem, deixando a sopa gelada repousar no prato. Andy absorvia todos os detalhes.
-Sneer não lhes conta muita coisa não é mesmo? Preciso vê-lo.
-Caso não tenha percebido ainda, Sneer não está mais aqui. Qualquer coisa que precise se dirija a mim e talvez entremos em algum acordo. - Sem perceber, Johnny estava de pé, com a cara colada na tela da televisão, que pela primeira vez se desligou, ficando inteiramente negra.
-E agora? - Perguntou Andy interessado.
-Agora – O garoto pálido tinha uma voz triunfante – agora é só deixar os dominós caírem.
1 Comentários:
sabia que eram drogas! muuuuuuuuuito bom esse capítulo
Por Anônimo, Às 17 de agosto de 2009 às 17:37
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