Linda desceu até o hall de entrada que se encontrava povoado apenas pelos quadros e os olhares desconfiados de seus habitantes. Olhou do outro lado, a janela que destruira no seu primeiro dia no St. Jimmy. Parecia que havia se passado anos desde então e não somente algumas semanas. Recordou-se com certa nostalgia da montanha-russa de sentimentos a qual todos ali foram submetidos. Tudo parecia tão patético agora.
Passou reto a bilbioteca e foi até uma porta que indicava em letras desbotadas “Secretaria”. Arrombou-a com um chute carregado de raiva.
Lá dentro encontrou tudo em absoluta bagunça. Pastas recehadas de papel, ou estes soltos, canetas, réguas, tesouras e outras coisas desinteressantes espalhadas pelo chão e pelas escrivaninhas de madeira barata. O calendário na parede branca ainda indicava o mês de janeiro. 14 de janeiro.
Atravessou o local pisoteando e chutando tudo ao alcance de seus pés até alcançar uma janela que abriu sem dificuldade.
A chuva havia se transformado em uma tempestade, mas mesmo assim a ruiva saltou para fora, caíndo num corredor apertado e sem graça. Virando-se encontrou uma velha escada enferrujada que parecia ter ficado de fora das últimas reformas no St. Jimmy. Subiu-a com tranquilidade apesar da aparência duvidosa, chegando à um terraço coberto no segundo andar.
O lugar não era bonito, ocupavam-no apenas duas banquetas nas laterais e uma mesa cercada de 4 bancos, tudo de cimento e com uma tintura cinzenta descascada. A porta que dava acesso àquele local por dentro do prédio estava emperrada e não havia despertado a curiosidade de outros alunos, com a exceção de Johnny que a apresentara o lugar.
Desde então Linda frequentava o terraço quando precisava reordenar os pensamentos. Sentava-se na mesa de cimento e ficava, sempre com os fones grudados no ouvido, encarando a paisagem: assistindo as pessoas se movimentarem lá embaixo, como se aquilo não passasse de uma realidade distante e pífia.
A ruiva sempre absorvera choques melhor que a irmã e dessa vez não havia sido diferente. Abraçou as pernas com um dos braços, defendendo-se do vento frio que chegava até lá. Apoiou o queixo num dos joelhos e com o outro braço começou a girar distraidamente o piercing metálico no nariz.
Após processar aquilo racionalmente, não sentiu raiva de Johnny nem de Lyla. Ela era a única culpada pela situação, já que conhecia os dois suficientemente bem. Deveria ter previsto que as coisas poderiam tomar o rumo que tomaram. Era inadmissível que não tivesse feito nada para evitar este triste fim.
O tempo passou sem que ela sequer mudasse de posição. Apesar da chuva, viu algumas pessoas saírem corajosamente em direção ao refeitório. Pensou em Lyla; precisava desculpar-se com a irmã. Johnny que se fodesse. Como não estava com fome resolveu esperar até que a loira voltasse para o prédio principal. Se voltasse.