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91 - Fibonacci
sábado, 24 de julho de 2010


-Pra onde estamos indo? - foi a primeira coisa que Sneer perguntou.
Os dois garotos praticamente corriam em direção ao prédio principal:
-Biblioteca – respondeu Johnny apressado, como se aquilo fosse óbvio. Sneer não achou isso:
-Biblioteca?
-É, biblioteca. Um bom lugar para se esconder as coisas e coincidentemente o lugar do primeiro assassinato.
Não havia muito tempo para palavras, por isso elas saiam esporadicamente:
-E você acha que Ele está lá?
-É só um palpite, mas é a única coisa que temos.
Sneer pareceu concordar, pois concentrou-se mais no trajeto que nas milhares de dúvidas que habitavam sua mente.
Nem um minuto se passou quando um grande estampido veio de onde eles se afastavam: tiros. Johnny parou:
-Merda. Será que...
-Não temos tempo, precisamos chagar logo na … - Sneer parou também. Mais três tiros.
-Você está certo – concordou Johnny tornando a andar – vamos, tenho certeza que tudo ficará bem, isso aqui sempre foi um grande clichê. A mentira foi finalizada ao som da última bala.
Mais um assunto se alojou no meio de tantos outros naquela noite traiçoeira. Quem seria Ele? Linda estaria viva? Ele estava com ela na biblioteca? O que mais havia lá, dinheiro? E no descampado, aqueles tiros... por mais egoísta que fosse admitir, torceram para que os alvos fossem os pobres alunos dopados, pois no fim, tudo o que podiam fazer era correr e torcer. A incapacidade corroía lenta e dolorosamente toda a esperança.
As árvores começaram a ficar esparsas e a magra lua tornou-se visível no céu nublado. No caminho até o alvo prédio principal, que a essa hora já dormia, foram mais poucos e ligeiros passos. Avançaram obstinadamente até a biblioteca.
O cheiro era forte. Algo gotejou na cabeça de Johnny e ele já provara aquilo uma vez: gasolina. O prédio estava infestado daquilo:
-Merda. Precisamos tirar todo mundo daqui, esse maluco vai por fogo em tudo – desesperou-se.
-Não enquanto ele estiver aqui – corrigiu Sneer. E aquilo fazia total sentido. Ele podia ser doido, mas não iria incendiar um lugar do qual não pudesse sair.
Johnny aquiesceu. Abriram a grande porta da biblioteca esperançosos. Tudo o que acharam foi um rastro de gasolina que obedientemente seguiram, até que subitamente o líquido sumisse, o rastro cessasse:
-Previsível, merda – praguejou Johnny.
-Que foi? - Sneer estava confuso.
-Foi aqui que a garota morreu, deve ter uma passagem por aqui, tem que ter uma passagem por aqui.
Sneer fitou a pesada estante. Estavam em química, um livro sobre Aristóteles estava caído no chão. No chão:
-Debaixo da estante, vamos empurrar.
Não foi preciso de força, como se tivesse rodas o móvel recuou ao menor toque, revelando um alçapão. Os garotos trocaram olhares, aquela parecia a hora:
-Tem algumas coisas que você deveria saber – pontuou Johnny, fazendo a adrenalina baixar e o suspense tornar a situação aterrorizantemente sombria – acho que Meyer é Ele.
-Como? - estranhou Sneer. Aquilo não era possível – Meyer não tem capacidade nem de matar uma formiga.
-Ele matou muito mais que isso. A primeira vez foi aqui, ele era parceiro da garota que morreu, fez todo aquele teatro e ninguém desconfiou. Depois foi Little e então no dia da festa mais dois. Eu, Charlie e ele eramos os únicos sóbrios na escola inteira, mas mais uma vez sua incrível capacidade cênica se sobressaiu. Semana passada morrem cinco no dormitório masculino por overdose do Elemento X cuja existência era conhecida por Meyer. E agora 8 pessoas são sequestradas, observe os números:
1-1-2-5-8
Sneer empalideceu.
-Fibonacci -balbuciou como se aquilo fosse tenebroso demais para ser dito em voz alta – só faltou o …
-Exatamente, só faltou o 3, o número de pessoas que ele matou quando me salvou no bosque. Queima de arquivo, ele afasta qualquer suspeita e ainda sai com a fama de salvador. Tenho que admitir que apesar de doido ele é muito inteligente.
-Um serial killer que mata na sequência de Fibonacci, seria engraçado se não fosse tão insano.
-Sinto muito, más terá que pensar nisso depois, não temos tempo. - Johnny olhou Sneer nos olhos – Pronto?
Um segundo de silêncio antecipou a resposta:
-Não e você?
-Jamais.
O garoto abriu a tampa do alçapão e os dois entraram na estreita e sombria passagem.

Música: Letterbomb - Green Day

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