Linda acordou num lugar estranho. Uma grande campina muito verde, cercada por selva de todos os lados. Não se lembrava de como chegara lá e nem por que estava lá. Tudo que sua memória era capaz de lhe fornecer eram tomates, morangos e bananas. O céu estava azul, ela desconfortável. Tentou lavantar-se, percebeu, então, estar amarrada a um pilar que sustentava uma grande tenda branca. Olhou para o lado e viu que não estava sozinha. Outras sete pessoas, amontoadas do lado oposto da tenda, se encontravam na mesma situação que ela: sequestradas. Tentou chamar algum deles , porém, por mais alto que gritasse não havia resposta. Se seguravam por um fio na vida, corpos empilhados como sacos de café, pulsando ritmicamente. Estavam dopados. Não os conhecia, para ela eram apenas nerds fedidos e riquinhos esnobes, contudo uma compaixão brotou em algum lugar. Quanto tempo demoraria para que ela ficasse na mesma situação? E depois disso, morreriam por fim? Observou atônita a simplicidade de uma formiga que levava a comida para seu povo. Deveria fazer isso todo dia sem cansar. E parecia feliz. Só percebeu que mais alguém lá estava consciente quando uma bota esmagou o pobre inseto trabalhador. Olhou assustada para cima e não levou muito tempo para que reconhecesse o assassino. -Acordou Lindinha? Se lembra da nossa última noite? - caçoou David. A agonia da parede caindo encima da ruiva indefesa tornou à mente: -Seu porco imundo! - a raiva e o desprezo iam aumentando conforme as lembranças tornavam-se claras. David apenas sorriu. Um lindo sorriso que em outra ocasião teria sido o suficiente para uma gentileza repleta de segundas intenções: -O que você quer de mim? - perguntou a ruiva, com as mãos atadas atrás das costas, encarando fortemente o garoto. -O que eu quero de você nunca precisei pedir. Mas você sumiu, não se explicou, me deixou sozinho e triste. Partiu meu coração. Agora o que importa é o que Ele quer de você. Nos acertamos mais tarde. -Ele quem? -Isso você só vai descobrir se quiser. - David agachou-se ficando na mesma altura de Linda. Numa voz cruel concluiu – ou pode ficar com aqueles otários e esperar que Ele tenha a bondade de acabar com tudo rapidamente. A troca de olhares entre os dois se intensificou por alguns instantes. David tentava se divertir com aquilo. Impulsivamente, Linda acertou uma cusparada logo abaixo do olho direito do menino. Sabia que sua vida se fora junto com a baba, seu orgulho, no entanto, permanecia intacto. David limpou o golpe com os pulsos e com decepção no semblante finalizou: -Eu disse que você era perda de tempo. Ainda acredita naquele Johnny e sua gangue de mongóis. Pena que eles não acreditem mais em você – David segurou a cabeça da ruiva com firmeza – esses nós estão apertados? Dessa vez você estará sóbria, pelo que me lembro você preferia assim. E o céu tornou-se cinza.
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