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2- Johnny Fun
quarta-feira, 25 de março de 2009


O sol brilhava fortemente naquele que não era apenas mais um dia de aula, era o primeiro dia de aula, mas diferentemente dos usuais primeiros dias, nesse não haviam garotas ávidas por relatar com detalhes suas férias em alguma cidade européia, nem garotos narrando com detalhes suas conquistas mais valiosas. Não haviam grupinhos, havia apenas o indivíduo, sozinho, com um mundo novo se abrindo pra ele naquele primeiro dia de aula.
A escola de St. Jimmy aceita apenas alunos excepcionais. Ou com mentes excepcionais ou com contas bancárias excepcionais, dali sairiam os principais líderes políticos, científicos e esportistas do país. Pelos perolados portões do St. Jimmy não passava qualquer um, não era necessário apenas querer.
Johnny Fun acabava de cruzar a barreira que garantiria seu futuro e se deparou com a magnificância do St, Jimmy. O prédio era imponente, seus 7 andares eram pintados num branco reluzente que fazia arder os olhos mais sensíveis, o gramado era mais verde e bem aparado que o de qualquer vizinho e pesados muros de concreto cercavam a escola por toda sua extensão. Tudo aquilo fez Johnny abrir um largo sorriso, a satisfação de ver e estar no meio da elite que em breve seria o futuro do país quase chegava a satisfazer seu ego. Mas haviam ali cerca de 300 pessoas e ele não se contentava em ser apenas mais um, queria ser o melhor. A missão pareceu extremamente fácil quando ouviu uma voz sussurrar em suas costas:
-Uau! Isso aqui parece Hogwarts, só que no paraíso!
Nerd, pensou Johnny. Largou seu skate numa vaga não ocupada do estacionamento frequentado por Ferraris, Porsches e outros carros luxuosos e virou-se para encarar o garoto que acabara de falar. Não era alto mas tinha braços estranhamente longos e desproporcionais em relação ao resto do corpo. Johnny julgou que uns oculos de fundo de garrafa cairiam bem naquela cara magra e boba. Os olhos eram castanho esverdeados e o cabelo extremamente despenteado que muito negro cobriam sua cabeça dando-lhe um ar ainda mais lunático e sonolento. Mas o que realmente chamou a atençao de Johnny foram as roupas do menino, que eram extamente iguais as dele, mas em melhor estado. A camisa polo listrada em preto e verde limão que em Johnny se encontrava ligeiramente desgrenhada no garoto estava para dentro das impecáveis calças jeans, que em Johnny eram gastas e rasgadas na altura do joelho.
- Falou comigo nerd?- indagou Johnny com um sorriso desafiador que era realçado pelos cabelos castanhos e curtos , sua pele muito clara e seus olhos extremamente azuis, se é que assim poderiam ser.
Mas o garoto não respondeu, ficou olhando assustado para Johnny. Pelo visto ele não pensou que pudesse ser visível e nem ouvido. Procurou desesperadamente por outra pessoa ali para quem a pergunta puderia ter sido direcionada, porém não havia mais ninguém. O constrangimento do garoto levou Johnny ao delírio, e agora se divertia ao tirar um cigarro de maconha do bolso traseiro. Com um aceno da mão ofereceu ao garoto imóvel com os olhos surpreendentemente arregalados. Vendo que ele ainda não se predispusera a falar, Johnny resolveu partir para uma abordagem amigável:
- Bela camisa
- Ah, obrigado, minha avó quem escolheu – Johnny riu descaradamente ao ouvir a voz do garoto com maior nitidez. Esse obviamente era o motivo pelo qual ele falava tão pouco.
- Cara, sua voz parece a do meu tio , e ele está no hopspício – e com isso levou o cigarro a boca e após uma tragada anunciou
- Gostei de você. Johnny.
-Meyer- disse o garoto a contra-gosto. Ele ainda parecia estar em estado de choque, quando um homem imponente, vestido com um terno tão negro quanto seus olhos, cabelo e barba pousou a mão no ombro de Johnny que se virou sem pressa e o encarou por um momento antes de oferecer o cigarro que fumava e comentar.
-É da boa - mas o homem não pareceu gostar e sua feição permaneceu séria.
-Não aceitamos drogas aqui senhor Fun. Sugiro que se livre delas antes que façamos isso por você – Meyer pareceu querer se pronunciar, mas o homem foi mais rápido – no seu caso são permitidas senhor Leyer. Esperamos os senhores no campo para sua primeira aula. - E com um último olhar pra mão de Johnny o homem se encaminhou para outros alunos proximos a eles.
Quando se certificou que o homem não os olhava mais, Meyer percebeu que Johnny mantinha os olhos fixos nele com uma espécie de fascinação, ele ainda mantinha o baseado aceso e após uma longa tragada disse:
-O que você tem ai? - e vendo a cara de confuso de Meyer adicionou – de drogas?
- E...eu tomo alguns remédios, minha vó diz que eles me mantém controlado – e encarou Johnny que agora parecia idolatrá-lo:
- Demais! Podemos ser bons amigos sabe e agarrando o atrapalhado garoto pelo ombro, seguiram para a cantina.


Música: Ace of Spades - Motorhead

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1-St. Jimmy
sábado, 21 de março de 2009


-O colégio St. Jimmy não é apenas um colégio.- Começou o diretor Robert Boss. Seu nervosismo era cada vez maior e ele fazia de tudo para que isso nao transparecesse. Seu terno não poderia estar mais impecável, era humanamente impossível que se encontrasse ali uma poeira que fosse, seu perfume nao era forte, mas fazia chegar às pessoas sentadas um agradável odor. No topo de sua cabeça não havia um único fio que ousasse sair do lugar, mas seus olhos profundamente negros que continuavam firmes não passavam confiança, alguns músculos se contraíam involuntariamente em sua cara magra e o alhar atento e avaliador daquelas três pessoas o fazia sentir-se como um mendigo imundo. Tentando afastar esse pensamento, ele continuou: -Aqui só entram os melhores, as mentes mais brilhantes e aqueles capazes de liderar essa nação num futuro próximo, os números provam, por aqui já passaram: 37 senadores, 4 presidentes da república, 25 medalhistass olímpicos, sendo 17 deles de ouro e ainda um prêmio nobel de física. Para ser educado pelo St. Jimmy é necessário mais do que apenas querer. Todo ano apenas os 300 melhores alunos que concluem o ensino médio em todo o país sao rigorosamente selecionados, e convidados a se juntar a nós para passar um ano decisivo em suas vidas, estar no colégio St. Jimmy hoje é visto como garantia de um futuro promissor. - Boss fez uma pausa para respirar e passou a mão mais uma vez pelo seus rareados e comportados cabelos. A insegurança era grande apesar de ter passado a madrugada inteira em claro, decorando suas falas. Observou a reação dos dois homens e da mulher presentes naquela apresentação, porém eles continuavam com o mesmo olhar. Uma pessoa que tivesse entrado na sala há 5 minutos e tornasse a entrar agora não veria diferença alguma, a não ser talvez algumas gotas de suor que começavam a aparecer no topo da cabeça do diretor. Ciente de que as pessoas ali presentes não se manifestariam tão cedo, ele abriu um slide que continha um grande portão perolado, seguro por um muro de concreto muito branco que se estendia por muitos metros em direções opostas de modo que ele todo não aparecia na tela. - Essa é a entrada do St. Jimmy, o portão é interamente em ouro e pintado de modo a dar uma aparência paradisíaca.- E passou o slide que agora exibia um belo estacionamento, repleto de Ferraris, Porsches, BMWs, SUVs e outros inúmeros carros luxuosos, o diretor Boss passou a imagem com uma breve indicação de que aquilo era o estacionamento. Na tela agora havia uma contrução imponente, tão branca quanto os muros que a cercavam, tinha 7 andares repleto de janelas. - Esse é o prédio principal, onde todo o conhecimento é transmitido a nossos alunos e é também o coração do St. Jimmy. Construído num estilo romanico, porém com uma grande quantidade de janelas para que se aproveite a luz do sol, presente o ano todo. - Ele mudou de novo a imagem e de novo, passando por campos de futebol , rugby, futebol americano, todos eles com a grama exímeamente aparada. Passaram também algumas quadras, um belíssimo jardim que se estendia por toda a propriedade, um grande pomar extremamente variado, cantinas e restaurantes, salas de aula, bibliotecas bem equipadas, a secretaria e todo o ambiente do St. Jimmy, até chegar a uma última foto que mostrava uma visão aérea da propriedade. Era belíssima, a escola ficava no alto de uma gigantesca montanha, que terminava numa praia de mar profundamente azul. Era cercada por todo o lado e impenetrável, repleta de cameras e cercas que impediam qualquer tentativa de que os muros fossem transpassados. A sensção que se tentava passar era de que se existia perfeição em algum lugar do mundo, certamente seria ali.
- Por fim - retomou o diretor - vou apresentá-los ao nosso sistema de ensino. Toda a tradição de St. Jimmy não nasceu do acaso, nós temos a habilidade de identificar o ponto forte de cada aluno, seja esportivo, científico ou político e destacá-lo, treiná-lo até que este se aproxime o máximo possível da perfeição. Foi isso que nos tornou os melhores, mas os tempos mudaram e a exigência do mundo também, somente esse trabalho não é mais suficiente para se manter na ponta, este ano revolucionaremos a didática e estamos certo que todos os alunos do St. Jimmy estarão aptos a conviver com qualquer desafio que a vida lhe imponha, dentro de doze meses não haverão mais adolescentes aqui e sim adultos munidos de personalidade, caráter e conhecimento. - Ele fez uma última pausa antes de acrescentar:- Alguma pergunta? - Robert parecia ter dito aquilo tudo excepciolamente rápido e agora sem fôlego, sua face começava a atingir um leve tom rosado. Ele encarou os dois homens e a mulher ali sentados. Um deles que era muito baixo, gordo e tinha mais bigode que cabelo, olhava encantado para aquilo tudo. O outro era um oriental musculoso e sério, parecia satisfeito. Mas quando seu olhar encontrou o da mulher baixa, com cabelos em forma de juba e oculos caidos sobre o nariz ele sentiu suas sombrancelhas afrouxarem.
- Queremos resultados, vocês tem um ano. - Dizendo isso ela se levantou e se encaminhou para a porta, gesto que foi seguido pelos outros dois homens sem a menor cerimonia ou despedida.
Quando a porta tornou a se fechar, Robert afrouxou o nó da gravata e soltou um demorado suspiro, parecia que precisasse se aliviar, entretanto não tinha certeza se a privada suportaria tantas fezes.
- Ela suportou, por um ano - disse para si mesmo num tom baixíssimo que somente ele poderia ter ouvido. Em seguida entrou no banheiro e por lá ficou o resto da tarde.


Música: St. Jimmy - Green Day

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