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82 - Sneer, Johnny, Ale e Gavin
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010


Foi mal, não posso fazer isso – desculpou-se Sofia.

-Você podia ter falado isso antes de eu abrir a camisinha – retrucou Sneer decepcionado.

A morena olhou para ele sem ter certeza se aquilo era sério ou não. A resposta veio num sorriso. O garoto sabia que também não poderia, sabia que o desaparecimento de Linda era sua chance para conquistar Sofia de uma vez por todas mas tinha consciência que agora a ruiva também não sairia mais de seu pensamento. Ainda nu pediu:

-Vem cá, me dá um abraço.

-Gay – riu Sofia e imediatamente os corpos juntaram-se e reconfortaram-se mutuamente. Sentiam-se incrívelmente bem um com o outro, contudo faltava um pedaço. Por mais que tivessem nunca estariam completos, não sem Linda:

-Vamos acha-lá. Eu prometo – disse Sneer baixinho.

Ao ouvir isso uma lágrima de Sofia foi morrer nos ombros do garoto. Deitou-se em seu colo e adormeceu meia hora depois.

Assim que os roncos anunciaram que aquele era um caminho de volta demorada Sneer parou o cafuné e se desvencilhou delicadamente para que ela não acordasse. Cobriu-a com uma manta e deu um beijo em sua testa. Vestiu-se.

O céu estava nublado. Ao sair do recém inaugurado dormitório misto apagou as luzes. Desceu as escadas até chegar ao terceiro andar. Foi até a sala no fim do corredor e a ponta acesa do baseado denunciou que, apesar da escuridão, Johnny lá estava;

-Você demorou mais que eu imaginei. Acenda a luz.

Sneer obedeceu e viu o garoto sentado num pufe verde surrupiado da sala de estar:

-Sinta-se em casa. - ainda o ouviu dizer antes de sentar numa poltrona – pegue um baseado encima da mesa. Tem isqueiro lá também.

-Valeu – agradeceu. Após uma tragada comentou – Baddy Teddy já era.

Aquilo não foi tão surpreendente para Johnny quanto Sneer esperava que fosse:

-Você é um homem ainda mais rico agora – comentou distraído.

-Ainda não – corrigiu – ainda está tudo uma bagunça, não deu tempo de cuidar de tudo.

-Uma bagunça de merda – Johnny levantou-se repentinamente irritado – vamos achar Linda e acabar logo com essa porra toda. Pegamos a grana e saímos fora.

-Podemos tomar um suco também enquanto isso. - Sneer levantou-se – Porra Johnny, não sabemos onde está a grana, não sabemos quem é o maluco por trás disso e nem o que ele fez com a chave e com Linda. Aceite, tudo saiu do seu controle!

Johnny voltou a sentar-se, como se estivesse mais preocupado com uma infiltração na parede murmurrou:

-Tenho meus palpites.

Surpresa! Sabia melhor do que ninguém o que aquilo significava:

E você não vai me falar não é mesmo? Um dia você vai se foder ainda mais com esse seu egoísmo.-

Não sabia mais por que estava lá. Tudo o que Johnny sabia fazer era irritálo e irritá-lo.

-Você não ia acreditar mesmo – defendeu-se o garoto no mesmo tom de voz arrastado.

-Tente – desafiou Sneer.

-Estou com preguiça, me devolva o cigarro.

O menino colorido obedeceu visívelmente contrariado. Para que ele estava fazendo aquilo? Alguma vingança pelo fato de ele e Sofia estarem juntos? Simples diversão? Poderia esperar qualquer coisa.

Já ia se levantando para sair quando Johnny o chamou, fazendo murchar toda a sua irritação:

-Ale – os garotos trocaram olhares como não faziam há muito tempo. O mesmo tempo que ele não ouvia aquele apelido – Eu não poderia querer ninguém melhor pra Sofia. Cuide bem dela, ela merece.

-Eu sei, não duvide disse.

De repente Gavin estava parado a seu lado na porta.

-Você e Lyla... - começou Sneer, tentando encontrar as melhores palavras para dizer aquilo.

-Eu sei – interrompeu o pálido garoto – eu sei, não se preocupe.

E os dois entregaram-se a um saudoso abraço:

-Gay – brincou Gavin – tá na hora de acabar com isso. Você sabe o que fazer.

Sneer apenas sorriu.


Música: The Masterplan - Oasis




81 - Linda e David
domingo, 14 de fevereiro de 2010


Linda acordou num lugar estranho. Uma grande campina muito verde, cercada por selva de todos os lados. Não se lembrava de como chegara lá e nem por que estava lá. Tudo que sua memória era capaz de lhe fornecer eram tomates, morangos e bananas. O céu estava azul, ela desconfortável.
Tentou lavantar-se, percebeu, então, estar amarrada a um pilar que sustentava uma grande tenda branca.
Olhou para o lado e viu que não estava sozinha. Outras sete pessoas, amontoadas do lado oposto da tenda, se encontravam na mesma situação que ela: sequestradas.
Tentou chamar algum deles , porém, por mais alto que gritasse não havia resposta. Se seguravam por um fio na vida, corpos empilhados como sacos de café, pulsando ritmicamente. Estavam dopados. Não os conhecia, para ela eram apenas nerds fedidos e riquinhos esnobes, contudo uma compaixão brotou em algum lugar. Quanto tempo demoraria para que ela ficasse na mesma situação? E depois disso, morreriam por fim?
Observou atônita a simplicidade de uma formiga que levava a comida para seu povo. Deveria fazer isso todo dia sem cansar. E parecia feliz. Só percebeu que mais alguém lá estava consciente quando uma bota esmagou o pobre inseto trabalhador. Olhou assustada para cima e não levou muito tempo para que reconhecesse o assassino.
-Acordou Lindinha? Se lembra da nossa última noite? - caçoou David.
A agonia da parede caindo encima da ruiva indefesa tornou à mente:
-Seu porco imundo! - a raiva e o desprezo iam aumentando conforme as lembranças tornavam-se claras.
David apenas sorriu. Um lindo sorriso que em outra ocasião teria sido o suficiente para uma gentileza repleta de segundas intenções:
-O que você quer de mim? - perguntou a ruiva, com as mãos atadas atrás das costas, encarando fortemente o garoto.
-O que eu quero de você nunca precisei pedir. Mas você sumiu, não se explicou, me deixou sozinho e triste. Partiu meu coração. Agora o que importa é o que Ele quer de você. Nos acertamos mais tarde.
-Ele quem?
-Isso você só vai descobrir se quiser. - David agachou-se ficando na mesma altura de Linda. Numa voz cruel concluiu – ou pode ficar com aqueles otários e esperar que Ele tenha a bondade de acabar com tudo rapidamente.
A troca de olhares entre os dois se intensificou por alguns instantes. David tentava se divertir com aquilo. Impulsivamente, Linda acertou uma cusparada logo abaixo do olho direito do menino. Sabia que sua vida se fora junto com a baba, seu orgulho, no entanto, permanecia intacto. David limpou o golpe com os pulsos e com decepção no semblante finalizou:
-Eu disse que você era perda de tempo. Ainda acredita naquele Johnny e sua gangue de mongóis. Pena que eles não acreditem mais em você – David segurou a cabeça da ruiva com firmeza – esses nós estão apertados? Dessa vez você estará sóbria, pelo que me lembro você preferia assim.
E o céu tornou-se cinza.

Música: Give me Novacaine - Green Day