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73 - Lyla
sexta-feira, 27 de novembro de 2009


Lyla ainda olhava fixamente para o mar. Não espantou-se quando este tornou se laranja; uma imensidão refrescante de suco, nem quando a floresta foi tomada por um roxo rodopiante. Pelo contrário, tudo estava tão mais bonito!
Olhou para o ceu púrpura e constatou que o sol fora embora; provavelmente viajara a negócios, nos dias de hoje nem ele tinha sossego! Por sorte Apolo tinha seus contatos e conseguira de última hora um disco voador um tanto quanto capenga e muito mal iluminado para seu lugar; não era o ideal, nem ao menos aproximava-se de ser e por isso a loira decidiu ignorá-lo. Contudo pouco antes de voltar sua atençao para a fofura da pedra na qual estava sentada algo se desprendeu do O.V.N.I. e veio voando em sua direção. Aguardou ansiosamente a criatura que se encaminhava lentamente até ela.
A imagem que se materializou a sua frente era diferente de qualquer outra coisa que ela já havia visto, ou mesmo imaginado. A coisa se assemelhava muito a um inseto; tinha grandes asas psicodélicas e um corpo de cerca de um metro de altura, mas muito fino e de um material verde, pegajoso e translucido. A cara, ou o que deveria ser uma, não passava de uma esfera gorda recoberta por círculos que piscaram em diferentes tons quando uma voz eterea saiu:
-Bom dia.
-Bom dia! - respondeu animadamente a loira - como vai sua tia?
A gosma que envolvia o corpo do bicho tornou-se negra:
-Minha tia morreu num desastre aereo semana passada. Não se pode mais voar tranquilamente por ai!
Ao ver que, dos círculos piscantes no corpo do inseto, lágrimas começaram a brotar, Lyla sentiu-se profundamente triste. Resolveu acompanhar a criatura em seus prantos. Contudo tão logo a água começou a correr em seus olhos, tão logo foi interrompida por uma ressoante risada:
-HAHAHAHA! Te peguei! Minha tia está bem, mandou abraços.
Um enorme peso foi retirado da dourada consciência:
-Ufa! Sua tia é uma fofa e voce tambem!
-Fofa? Fofa? Agora voce passou dos limites menina insolente! Vai ver quando outro sol verde passará por aqui! - o inseto estava claramente irritado.
-Quando? - perguntou Lyla, certa de que tudo nao passava de outra brincadeira.
-Nunca! Nunca! - e o animal retirou-se, voando indignado de volta para sua nave xadrez que pairava ao longe.
A garota levantou-se da pedra fofa e foi atrás gritando:
-Volte aqui borboletinha! Volte aqui!
Quando finalmente alcançou-a sentiu seu corpo irreversivelmente pesado. Descobriu que caíra quando, após alguns segundos, atingiu o chão. Não sentiu dor. Lamentou-se apenas que seu sangue não fosse verde-limão; azul-anil estava tão fora de moda!
Pode ver ainda um cavaleiro branco vindo em seu resgate antes de desmaiar.


Música: Here Comes The Sun - The Beatles





72 - Abelhas e sapos
segunda-feira, 23 de novembro de 2009


De volta a sua forma normal e desistindo de acompanhar Linda que se afastava Sneer montou no Pikachu enquanto este continuava a investir contra o estranho sapo rosado. As cores dançavam despreocupadamente visitando sem preconceito algum o mar, a floresta e o ceu:
-Pikachu, choque do trovão! - ordenou.
Seguiu-se um forte raio, contudo o sapo não fora afetado. Seria ele do tipo pedra? Teria que descobrir, essa era a vantagem de ter um Pikachu surfista:
-Pikachu, use surf!
-Pika, pika! - repondeu o pokémon.
Antes no entanto que pudesse o Pikachu golpear, o sapo rosa terminou sua última redondilha e esticou a língua até tocar o ratinho amarelo:
-Ah não! Paralisado! - lamentou Sneer – devo ter alguma coisa para ajudar na minha mochila.
O garoto começou a revirar a bolsa que trazia nas costas. Sucos e sanduíches voaram na direção de Sofia. Para a garota no entanto, não se passavam de abelhas furiosas com o não cumprimento do prazo de entrega. Desesperou-se. Como poderia fabricar sete apitos em tão pouco tempo?
Desviou dos ferroões verdes e furiosos que perseguiam-na. O alívio por ter se livrado do primeiro ataque aumentou quando sentiu algo pesar em seu bolso. Ela vira no espelho e na intenção de usá-los para o bem os apitos vieram parar ali. Ao menos isso foi o que ela imaginou, decepcionou-se quando, ao meter desajeitadamente a mão grande demais para a abertura no shorts encontrou nada mais que um novelo de lã reciclável. Queixou-se em voz baixa:
-Merda, merda, merda! Malditos apitos!
Nunca se imaginara no papel de donzela indefesa. Logo ela que desde cedo tivera que conviver com tanta coisa, aguentar tantas tragédias, se via ali exposta à abelhas assassinas por não ter fabricado meros apitos inuteis. Fechou os olhos e sentiu seu coração contrair à espera de seu fim. Ao notar que este se demorava por demais, abriu minimamente uma das pálpebras e viu Sneer devorando com gosto as abelinhas más.
Não perdeu tempo e foi agradecer devidamente ao seu herói.

Música: Flathead - The Frattelis



71 - Pikachus e tomates
sábado, 21 de novembro de 2009


Linda foi a primeira a começar a rir quando o sol finalmente começou a aparecer:

-Ele existe, ele existe! - exclamou animada com a revelação.

Sneer e Sofia olharam sorrindo para ela. O garoto fechou os olhos e deu uma longa tragada no baseado em sua mão, sentindo sua consciência ficar extremamente leve, ao ponto de seu cérebro voar livremente. Em seguida apanhou algumas das pílulas coloridas e engoliu-as com a ajuda do suco. Suas células se agitaram animadas, prontas para uma orgia meiótica, a polarização dos mais insignificantes átomos em seu corpo eram palpáveis. A última coisa da qual teve convicção era de que Sofia fazia o mesmo.

Quando voltou a olhar para o horizonte a coloração deste era de fazer inveja aos trajes do garoto. O cheiro do mato ao lado aflorava seus poros. O som do mar distante parecia querer dizer-lhe algo. Podia sentir a felicidade grudar em sua pele.

Um estrondo soou em algum lugar e ao longe dois pontos se destacaram na infinidade de cores. Se aproximavam lentamente e quando se tornaram distinguíveis, Sneer saudou-os:

-Pikachu!

O pokémon travava uma dura batalha contra um sapo cor de rosa que insistia em declamar poemas enquanto era atacado:

-Amor é palmeiras onde canta Margareth

e quanto do teu sal são das nádegas de Elizabeth?

Sneer perdeu-se numa risada infinta, não fazia esforço algum para se conter. Seus orgãos haviam trocado de função em seu corpo de modo que ele não sabia mais qual era o modo correto de utilizá-los. Riu tanto que acabou por metamorfosear-se numa minhoca azul.

Encontrava-se repleto de aneis pelo corpo inteiro e seus braços haviam grudado no corpo, suas pernas se juntaram e ele saiu rastejando na direção de Linda. Ao menos era um azul bonito.

A ruiva dançava freneticamente. As luzes piscavam leves e ariscas em verde, azul, vermelho, roxo, laranja, rosa e verde de novo. Procurou Sofia no meio daquele caos luminoso. Sentia uma vontade salgada, ou talvez alaranjada, de beijá-la. Contudo por mais que seus olhos saíssem em busca da morena, nada conseguiam encontrar.

Quando conformou-se com seu desaparecimento, uma família de tomates veio em seu socorro:

    -Let me take you down
    ´Cause I´m going to
    Strawberry Fields
    Nothing is real
    And nothing to get hung about
    Strawberry Fields forever – cantarolavam em unissono.

    -AC/DC, legal! - comentou a ruiva. Mas antes que pudesse desviar os olhos uma duvida assolou-a – Por que vocês estão indo para os campos de morango se são tomates?

-Por que não? - respondeu o tomate de aparencia mais respeitável. Trajava um terno marrom um pouco surrado, e oculos meia-lua.

-Por que vocês são tomates e não morangos! - aquilo decididamente não estava certo. Era como torcedores de um time irem prestigiar o jogo do time rival, comprarem camisetas dele e ainda cantarem seu hino.

-E dái? - respondeu uma voz feminina. Sua dona era uma tomata muito atraente, de curvas bem definidas e de vermelhidão invejável.

-Morangos são doces, tomates salgados – começou Linda, com uma didática forçada – Não combina! Vocês não podem se misturar, sinto muito, mas não da certo! A física deve explicar isso melhor que eu.

-Então você nos julga? Nos rotula? Nos diz o que devemos fazer e o que não devemos? Escolhe para nós o que é o certo e o que é o errado? Por acaso já lhe passou pela cabeça que temos cérebro e podemos decidir o que é bom ou não para nós? - interveio um tomate revoltado e com um vistoso moecano verde e coturnos engraxados.

Na verdade aquilo nunca havia se passado pela cabeça de Linda. Tomates não pensavam, ela pensava. Foi o que tentou verbalizar com um grito histerico:

-Vocês são tomates e tomates não pensam!

Sentiu-se ruborizar.

Sua ira foi recebida com uma risada superior:

-Você que pensa! - corrigiu o tomate mais velho – haverá uma festa nos campos de morango, e acho que a esse ponto você já pode se a juntar-se a nós.

O convite fez os olhos da ruiva brilharem. Não era todo dia que um ser humano tinha a chance de conhecer a famosa “Festa Vermelha”. No entanto, ela não poderia para de dançar, seu corpo precisava daquilo. Os desejos da carne acabariam por ser mais relevantes que os do espírito. Teve que se desculpar-se:

-Sintou muito Sr. Tomate, eu não posso parar de dançar.

-Você pode ir dançando – sugeriu a tomata mãe.

E Alice partiu junto com os tomates rumo aos campos de morango.


Música: Strawberry Fields Forever - The Beatles




70 - Gavin e Lyla
quarta-feira, 18 de novembro de 2009


Andy e Johnny haviam chegado ao pé da rocha. Não tinham trocado uma palavra durante todo o trajeto de modo que um apenas imaginava o que se passava na cabeça do outro. No caso do segundo garoto, o pensamento estava longe, uma sensação de deja vu tomou conta dele.
Subiu pela pedra sem dificuldades, seus cabelos loiros balançavam sobre os ombros e a franja as vezes caia nos olhos.
Ela estava lá, contudo não percebera sua presença, sentada de costas para ele e de frente para o mar, tinha fones brancos nos ouvidos cobertos pela trança dourada. Gavin aproximou-se a passos leves, incertos. Parou subitamente ao ouvir uma voz delicadamente desafiadora:
-Você veio. - ela não se movera um centímetro.
Percebeu que pela primeira vez na vida estava nervoso. Era acostumado a ser senhor de seu prórpio destino, ele determinava sua própria sorte. No entanto, as águas daquele mar eram imprevisiveis e extremamente tentadoras. Após alguma reflexão respondeu:
-Acho que eu sabia onde te encontrar. Ouvi quando seus olhos disseram.
Avançou mais um pouco e foi sentar-se ao lado dela. Lyla fumava um baseado que foi silenciosamente oferecido e caladamente aceitado. Gavin roubou um dos fones brancos. Tocava Oasis, Champagne Supernova. Não era a favorita dele mas parecia se adequar bem à situação. Devolveu o cigarro e fitou demoradamente o mar que se estendia serenamente a sua frente. Não seria para sempre assim, fato que ele descobriria mais tarde. Surpreendeu-se quando Lyla tornou a falar:
-Você esqueceu isso aqui ontem no elevador – e tirou uma caixinha vinho do decote. Gavin reparou pela primeira vez na roupa que ela usava: um microshort jeans que revelava tentadoramente suas belas pernas e uma camisa branca, lisa e moderadamente decotada. Nos pés um all-star verde surrado de cano alto; estava deslumbrante.
Apanhou a caixinha com gratidão e curiosidade. Não seria possível, ele tinha certeza, porém abriu-a mesmo assim. Para seu espanto lá dentro estava o trevo de quatro folhas muito vivo e intensamente verde.
Mas como? Aquilo tinha ficado na sua mala desde que sua irmã lhe dera em Groeldy Beach. Será que Lyla a havia surrupiado em seu quarto? Impossível. As dúvidas bagunçavam sua cabeça de modo que tudo que saiu da sua boca foi:
-Obrigado.
A loira estava incrivelmente tranquila, quase inacessível por alguém desse mundo. Quase:
-Ontem no elevador...- começou Gavin.
-Eu sei – interrompeu Lyla calmamente. Sua voz era baixa e firme. - Eu senti o mesmo.
Seus olhos se cruzaram pela primeira vez. Gavin sentiu o estômago pesar. Se ficasse a vida inteira olhando no fundo daquele mar morreria feliz. Felicidade aliás foi o que encontrou navegando naquelas águas por hora amenas, por hora tempestuosas, mas sempre apaixonantes. Os monstros que ele teria que vencer depois não sublimavam no alto daquela rocha. Sublimava-se um sensação estranhamente nova e incrívelmente boa. O perfume doce dela misturou-se com a brisa marítima, entorpecendo-o, enlouquecendo-o.
Ali começara uma navegação rumo ao desconhecido.
Johnny olhou para o topo da pedra e concluiu que era hora de seu barco retomar o rumo. Olhou para Andy e confirmou em voz baixa:
-Vamos.

Música: Champagne Supernova - Oasis



69 - Meyer, Sneer, Sofia, Linda e Lyla
terça-feira, 17 de novembro de 2009


Meyer foi o último a atingir o topo da rocha. Tivera sérias dificuldades para escalá-la, mesmo sendo essa de fácil acesso. Suava como um porco e o rosa da sua face havia se intensificada demonstrando claros sinais de cansaço. O suor escorria pelos seus cabelos sedosos.

Os cinco olhavam sonhadoramente para o horizonte. Cada um sustentava sua prórpia utopia e a única certeza era a de que em todas elas aquele lugar paradisiaco estava presente. A rocha se erguia acima do bosque e de lá se via primeiramente um mar verde de árvores; posteriormente um azul anil de água e sal. Entre eles um extenso muro cinzento que os cinco fizeram questão de ignorar.

Lyla suspirou. Ele não viria afinal. A onisciência, onipresença e onipotência de Johnny haviam se provado falhas. Uma pena, pois algo bem no fundo de sua alma desejava que ele estivesse ali. Esticou uma toalha vermelha de pique-nique e retirou os lanches e sucos de sua bolsa; ainda não estava com fome, contudo, julgou que não demoraria muito para que essa situação mudasse. O sol ainda nem nascera.

Sneer já havia se sentado. Segurava um baseado recém acendido enquanto se perdia em seus próprios pensamentos. Aquilo era lindo para caralho. Olhou para Lyla, seus cabelos brilhavam na até então escuridão; ela amava Johnny. Para Sneer aquela era uma luta perdida, sempre fora. Talvez, no entanto, não tivesse que lutar. A solução veio sentar-se a seu lado:

-Um trago? - Pediu a voz doce de Sofia.

O pedido foi imediatamente atendido. Sneer pegou a mão da menina e ficou passeando com seus dedos pelo braço dela, parando lentamente quando se aproximava de uma das várias pintas.

Quando Linda juntou-se a eles a eles já havia se entupido de pilulas. Pediu o cigarro à Sofia e quando a morena entregou-o recebeu em troca um afago provocante nas pernas descobertas.

Sofia fechou os olhos, o que não era uma atitude muito sensata tendo em vista o espetáculo que se erguia diante deles. De seu lado esquerdo estava Sneer acariciando carinhosamente seu braço. Do direito Linda, com a mão perigosamente em suas cochas. Já não podia escolher, não queria escolher, não iria escolher. Talvez fosse melhor assim.


Música: Juicebox - The Strokes




68 - 5 + alguns meses atrás
sábado, 14 de novembro de 2009


Johnny acordou assustado no meio da noite. Conferiu no relógio de pulso de Andy e viu que ainda eram três da manhã. Tivera um pesadelo. Olhou para o amigo e sentiu uma imensa gratidão. Não voltaria a dormir então acendeu um baseado. Foram necessárias cinco tentativas para que o fogo pegasse.
Cinco pensou. A sua mente vieram Meyer, Sneer, Sofia, Linda e Lyla, tendo a última se demorado um pouco mais que seus antecessores. O grupo era de cinco pessoas e estavam se dirigindo para um ponto isolado do colégio. Gelou. Eles precisavam dele e não sabiam, talvez fosse melhor assim.
Afastou o pensamento dando um longa tragada no cigarro. Recordou-se do pesadelo; mais uma vez sonhara com a mãe e as coisas não terminavam bem. Ultimamente aquilo acontecia quase toda noite.
Meteu a mão no bolso e de lá tirou uma caixinha. Encarou-a demoradamente, passando o dedo pelo tecido de veludo vinho que a cobria. Finalmente abriu-a. Lá repousava o trevo, um pouco murcho e seco, de verde mais escuro que normal, vivo. Ainda vivo.
Ordenou o raciocínio: elemento X fora roubado; a festa ocorreria dali algumas horas com cinco participantes. Sua tese estava para ser comprovada, contudo, esperava sinceramente que isso não acontecesse. Seria doce o gosto do erro, tranquilizador o da falha. Era hora de voltar, aquele tempo no bosque fora útil, deixara crescer algo que gostava de chamar de barba, porém precisava voltar. Deu outra tragada e permitiu-se viajar para um passado não muito distante, entretanto extremamente diferente.
Estavam na praia, sentados em volta de uma fogueira com um cigarro de maconha rodando de boca em boca. Numa mão Gavin trazia uma vodka roubada de um mercado, na outra os gordos dedos de Lyla. Naquela época ele não precisava disfarçar a voz e seus cabelos ainda eram loiros e bagunçados. Ponderou deixá-los daquele modo novamente, agora que não precisava esconder mais nada de ninguém.
Lyla parecia com frio, ele abraçou-a e ganhou um beijo por isso. Olhou no fundo daquele mar e sentiu uma sensação da qual nunca se cansaria: a de navegar naquelas águas tão imprevisíveis.
Do outro lado estava Sneer, com os cabelos muito compridos e uma roupa perfeitamente colorida, e Samantha, ou simplesmente Sam.
Sam era uma bela morena de olhos escuros moldados por belos cílios. Era a namorada de Sneer, mas apesar da inegável conexão existente entre os dois, o garoto nunca se apaixonara por ela. Isso era comprovado no olhar pouco sorridente que lançara para Lyla quando Gavin a abraçou.
Sem dizer nada os quatro ficaram em volta do fogo, felizes. O baseado retornou à mão de Johnny e ele deu um trago. Ao abrir os olhos estava de volta à realidade.
Acordou Andy cutucando-o no ombro:
-É hora de ir amigão.
E e poucos minutos os dois já estavam na trilha rumo a desalienação.

Música: Wheels - Foo Fighters



67 - Xeque-mate Aleksander
terça-feira, 10 de novembro de 2009


Quando os outros quatro já estavam suficientemente distantes Sneer se dirigiu para o salão do refeitório. O azul estático da televisão logo deu lugar ao velho de tapa olho:

-Baddy Teddy! - cumprimentou o garoto

-Quando deixou de me chamar de vovô?

-Quando começamos a tratar de negócios – disse rispidamente – vou resolver aquele nosso problema.

Devaneou por alguns instantes enquanto o velho o observava satisfeito. Sua mente foi parar no verão passado. Ele e o avô num quarto da mansão dos Aleksander, o tempo era curto. Jogavam xadrez, o homem havia iniciado o menino no jogo e desde então a criatura ainda não fora capaz de vencer seu mestre. Contudo as coisas pareciam estar para mudar. Baddy Teddy fez sua jogada e sorriu certo de ter o jogo em suas mãos. Quando a idade chega não nos preocupamos mais em variar aquilo que já é certo até que este deixe de sê-lo, mas ai pode ser tarde demais:

-Três milhões. Ano que vem nos vemos no St. Jimmy – o tom era de despedida.

Sneer finalmente se dera conta do que fazer para virar o jogo. Moveu uma peça e a situação se inverteu, porém não teve tempo de dizer as palavras mágicas. Um estrondo revelou que a porta havia acabado de ser arrombada, o velho supostamente já estava morto e enterrado num luxuoso cemitério há poucos quilometros dali. Seria no mínimo estranho se ele fosse pego vivo e jogando xadrez com seu querido neto.

Desde então a boca do garoto formigava para dizer aquela frase. Agora finalmente o momento chegara:

-Xeque-mate – e tirou a franja dos olhos amendoados, podendo ver melhor o cano de uma arma estourar os miolos do ancião indefeso.

Sneer abandonou o refeitório e se encontrou feliz e incrivelmente leve com as garotas na altura do bosque. Elas contaram que Meyer havia ido atrás de um curativo para o dedo. Minutos depois o garoto voltou e o grupo se encaminhou calado ruma à doce alienação.


Música: HAHA You're Dead - Green Day




66- Pré-festa
sábado, 7 de novembro de 2009


Meyer, Sneer, Sofia, Linda e Lyla eram os únicos na cozinha do refeitório às 4 da manha. Todos carregavam mochilas; as das garotas com comidas e bebidas que o grupo preparava no exato momento, a dos garotos com roupas extras e drogas.
Todos trabalhavam, as meninas preparavam os sucos e os meninos os sanduíches. As conversas se limitavam a vagos “ me passe o sal” e “vai tomar no cu”. Áquele horário o sono ainda era maior que a excitação pelo que viria a seguir.
Meyer estava ainda mais desligado que o normal. Vestia suas roupas sempre muito bem dobradas e passadas e se entretia com uma lagartixa sem rabo que se debatia na parede. Se entreteu tanto que em vez dos tomates que deveria cortar, foi um pedaço de seu prórpio dedo que acabou arrancando:
-Ah, cocozinho! - xingou – Vovó vai ficar irada! Isso é tão clichê! - e foi até uma das pias lavar o sangue que escorria livremente.
Sneer riu com a situação do garoto. Gostava de Meyer ainda mais depois da inesperada reação no bosque. Seu sentimeno era proporcional ao de um pai após uma grande realização de seu filho. Esperava pelo fim da preparação daquela coisarada inútil; tinha seus prórpios assuntos para resolver. O prateado, o verde-limão e o azul-anil-marinho de sua vestimenta brilhavam no dia que ainda não raiara.
Sofia reparava em todo aquele brilho. Era impossível não fazê-lo, era algo tão constante, tão chamativo. Sua atenção era disputada e ela se sentia incrívelmente bem com isso. Desde que sua mãe se fora, Gavin havia sido sua única certeza. Pensou nele enquanto espremia uma laranja. O suco voou diretamente para o branco de sua caríssima camisa. Hesitou.
Linda parou também, havia cortado sua última maçã. Olhou para o lado e sentiu-se feliz. Percebeu que não se importava em dividi-la com Sneer, ela era boa o suficiente para os dois e no fundo começava a simpatizar com toda a extravagancia do garoto. Fez suco de meia maçã e limpou as mãos ácidas na apertada camiseta negra.
Lyla ficou satisfeita ao constatar que a tarefa chegara ao fim. Todo aquele trabalho mecânico era bom para manter a mente ocupada enquanto essa insistia em vagar por outro lugar, contudo, o ácido ressecava sua mão e a ansiedade sua alma. Não escolhera aquele lugar por acaso, confiava na inteligência de Johnny. No fundo se sentia obrigada a dar ao garoto uma última chance. Tocou inconscientemente o pescoço com a mão ainda aspera e exclamou:
-Acho que já é o suficiente.
Todos concordaram em silêncio e largaram o que estavam fazendo. Enfiaram os sucos em jarras e as jarras nas mochilas. Embrulharam os sanduíches em papéis alumínio e posteriormente guardaram-nos junto com o suco. Meyer desistiu de estancar o corte e enfiou o dedo na boca, saciando temporariamente a sede com o próprio sangue. Saíram pela porta dos fundos. Sneer ficou:
-Vão na frente, vou encobrir os rastros.
Ninguém relutou em voz alta. A desconfiança se perpassava individalmente nas mentes mais perspicazes.

Música: Space Invaders - Arctic Monkeys



65 - Johnny, Andy e Charlie
terça-feira, 3 de novembro de 2009


-Eles vão esquecer, sempre esquecem – explicava Johnny – quando se faz merda é só dar um tempo que ninguém mais vai lembrar. Relevarão as coisas boas que você fez e perceberão que todo mundo erra. Ai precisam de você e vêm correndo te procurar. As coisas vão mudar, sempre mudam, ai minhas crianças precisarão de mim. Até lá é bom deixar eles pensarem que estão no comando. Ralar o joelho as vezes faz bem.

Andy ouvia sem muito interesse. Brincava com a barba que tomava conta de sua face. Já fazia duas semanas que comia mal, dormia mal e não tinha qualquer contato com o resto da escola. Preso nas profundezas daquele bosque, a vingança, pura e venenosa, começava a tomar conta de seu sangue e de sua cabeça cada vez mais intensamente. Estava tão cego que nem percebeu que Johnny parara de falar. Somente quando os passos incertos tornaram-se nítidos é que ele voltou à realidade. Olhou para o garoto pálido que já estava pronto para atacar o possível visitante. Posicionou-se também.

Quando a cara mediocre de Charlie apareceu o Johnny saltou determinadamente para cima dele, derrubando-o e festejando:

- Hey Charlie! You're the banana king!- comemorava enquanto o menino sentava-se assustado – como nos achou seu grande merda?

-Os pássaros estavam sobrevoando essa área da floresta, imaginei que vocês tivessem matado algum animal para comer e a carcaça ficou largada, atraindo os abutres – explicou-se.

- Você é esperto – concordou Johnny – mas não matamos nada. Temos comido apenas frutas, será que você não consegue arrumar alguma coisa pra gente?

Charlie abriu a mochila e de um bolso tirou alguns cereais, salgadinhos e bolachas. De outro tirou um pacote, que julgava conter maconha, e uns isqueiros:

- Isso foi o que Sneer deixou sobrar de seu estoque – relatou.

- Charlie! - gritava Johnny visivelmente feliz; voltando a si concluiu – aquele maconheirinho safado – havia carinho em sua voz – e Lichba, como vão?

-Vamos bem, mas ela tem um recado: roubaram o elemento X. Ela está desesperada, se culpando.

-Isso é sério – de repente a alegria de Johnny se esvaíra – mas fale que não é culpa dela. Quanto a você, fique de olho, cinco alunos podem não acordar qualquer dia desses.

Charlie e Andy se assustaram com a previsão. Johnny tinha o péssimo hábito de acertá-las. Percebendo o temor que causara, o garoto resolveu mudar o assunto:

-E os cinco mosqueteiros, como vão?

-É... na verdade os mosqueteiros eram três. Mas parecem bravos com você de qualquer jeito – revelou.

-Cinco, três. Dois números ímpares, primos e fazem parte da sequência de Fibonacci; todo mundo confunde – isso no entanto, não era bem verdade. Acendendo um cigarro voltou sua atenção para o assunto importante – um dia eles entenderão que os fins justificam os meios – deu uma tragada melodramática – Maquiavel disse isso.

- Na verdade ele não disse – corrigiu Andy.

-Pois deveria, é algo muito sensato a se dizer – e continuou a se divertir com o cigarro, como um gato com um novelo de lã.

-Tem mais uma coisa – anunciou Charlie – vai ter uma festa. Não sei onde, nem quando, é tudo segredo. Somente quem descobrir o local e a hora pode ir; na escola está cheio de pistas, como trevos e bandeiras verdes e azuis. Ninguém entende nada.

- Se eles quiserem esconder a festa é só ir pra a biblioteca – e Johnny ronronou como não fazia há muito tempo. – Quem está organizando?

- Linda, Sofia e Sneer.

- Que dia é hoje?

- 31 de março. Seis horas da tarde.

-Tem uma pedra que é o ponto mais alto dessa escola. É o único ponto do St. Jimmy do qual se pode ver a praia. Nos vemos lá daqui doze horas.

Nenhum dos dois ousou dicutir. Charile ainda deu um relato detalhado do triângulo amoroso entre Sneer, Sofia e Linda, da intensa variação de humor de Lyla, de como o resto dos alunos ainda estavam apavorados com a ameaça falsa da bomba e como levavam suas vidas miseráveis e previsíveis. Quando o menino finalmente voltou para o prédio principal Johnny desabafou:

-Ela me ama. - e deu mais uma tragada no cigarro.


Música: Big Yellow Taxi - Pinhead Gunpowder