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71 - Pikachus e tomates
sábado, 21 de novembro de 2009


Linda foi a primeira a começar a rir quando o sol finalmente começou a aparecer:

-Ele existe, ele existe! - exclamou animada com a revelação.

Sneer e Sofia olharam sorrindo para ela. O garoto fechou os olhos e deu uma longa tragada no baseado em sua mão, sentindo sua consciência ficar extremamente leve, ao ponto de seu cérebro voar livremente. Em seguida apanhou algumas das pílulas coloridas e engoliu-as com a ajuda do suco. Suas células se agitaram animadas, prontas para uma orgia meiótica, a polarização dos mais insignificantes átomos em seu corpo eram palpáveis. A última coisa da qual teve convicção era de que Sofia fazia o mesmo.

Quando voltou a olhar para o horizonte a coloração deste era de fazer inveja aos trajes do garoto. O cheiro do mato ao lado aflorava seus poros. O som do mar distante parecia querer dizer-lhe algo. Podia sentir a felicidade grudar em sua pele.

Um estrondo soou em algum lugar e ao longe dois pontos se destacaram na infinidade de cores. Se aproximavam lentamente e quando se tornaram distinguíveis, Sneer saudou-os:

-Pikachu!

O pokémon travava uma dura batalha contra um sapo cor de rosa que insistia em declamar poemas enquanto era atacado:

-Amor é palmeiras onde canta Margareth

e quanto do teu sal são das nádegas de Elizabeth?

Sneer perdeu-se numa risada infinta, não fazia esforço algum para se conter. Seus orgãos haviam trocado de função em seu corpo de modo que ele não sabia mais qual era o modo correto de utilizá-los. Riu tanto que acabou por metamorfosear-se numa minhoca azul.

Encontrava-se repleto de aneis pelo corpo inteiro e seus braços haviam grudado no corpo, suas pernas se juntaram e ele saiu rastejando na direção de Linda. Ao menos era um azul bonito.

A ruiva dançava freneticamente. As luzes piscavam leves e ariscas em verde, azul, vermelho, roxo, laranja, rosa e verde de novo. Procurou Sofia no meio daquele caos luminoso. Sentia uma vontade salgada, ou talvez alaranjada, de beijá-la. Contudo por mais que seus olhos saíssem em busca da morena, nada conseguiam encontrar.

Quando conformou-se com seu desaparecimento, uma família de tomates veio em seu socorro:

    -Let me take you down
    ´Cause I´m going to
    Strawberry Fields
    Nothing is real
    And nothing to get hung about
    Strawberry Fields forever – cantarolavam em unissono.

    -AC/DC, legal! - comentou a ruiva. Mas antes que pudesse desviar os olhos uma duvida assolou-a – Por que vocês estão indo para os campos de morango se são tomates?

-Por que não? - respondeu o tomate de aparencia mais respeitável. Trajava um terno marrom um pouco surrado, e oculos meia-lua.

-Por que vocês são tomates e não morangos! - aquilo decididamente não estava certo. Era como torcedores de um time irem prestigiar o jogo do time rival, comprarem camisetas dele e ainda cantarem seu hino.

-E dái? - respondeu uma voz feminina. Sua dona era uma tomata muito atraente, de curvas bem definidas e de vermelhidão invejável.

-Morangos são doces, tomates salgados – começou Linda, com uma didática forçada – Não combina! Vocês não podem se misturar, sinto muito, mas não da certo! A física deve explicar isso melhor que eu.

-Então você nos julga? Nos rotula? Nos diz o que devemos fazer e o que não devemos? Escolhe para nós o que é o certo e o que é o errado? Por acaso já lhe passou pela cabeça que temos cérebro e podemos decidir o que é bom ou não para nós? - interveio um tomate revoltado e com um vistoso moecano verde e coturnos engraxados.

Na verdade aquilo nunca havia se passado pela cabeça de Linda. Tomates não pensavam, ela pensava. Foi o que tentou verbalizar com um grito histerico:

-Vocês são tomates e tomates não pensam!

Sentiu-se ruborizar.

Sua ira foi recebida com uma risada superior:

-Você que pensa! - corrigiu o tomate mais velho – haverá uma festa nos campos de morango, e acho que a esse ponto você já pode se a juntar-se a nós.

O convite fez os olhos da ruiva brilharem. Não era todo dia que um ser humano tinha a chance de conhecer a famosa “Festa Vermelha”. No entanto, ela não poderia para de dançar, seu corpo precisava daquilo. Os desejos da carne acabariam por ser mais relevantes que os do espírito. Teve que se desculpar-se:

-Sintou muito Sr. Tomate, eu não posso parar de dançar.

-Você pode ir dançando – sugeriu a tomata mãe.

E Alice partiu junto com os tomates rumo aos campos de morango.


Música: Strawberry Fields Forever - The Beatles


1 Comentários:

  • Aulas de biologia e filosofia a parte, um capitulo como vocês talvez dizem, com muito 4:20 envolvido, mas esse foi um dos melhores capitulos, o melhor eu poderia dizer se me recordasse bem de todos os demais. O mais legal seria se os tomates e os morangos realmente combinassem. Incrível!

    Por Anonymous Anônimo, Às 22 de novembro de 2009 às 13:05  

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