Meyer, Sneer, Sofia, Linda e Lyla eram os únicos na cozinha do refeitório às 4 da manha. Todos carregavam mochilas; as das garotas com comidas e bebidas que o grupo preparava no exato momento, a dos garotos com roupas extras e drogas. Todos trabalhavam, as meninas preparavam os sucos e os meninos os sanduíches. As conversas se limitavam a vagos “ me passe o sal” e “vai tomar no cu”. Áquele horário o sono ainda era maior que a excitação pelo que viria a seguir. Meyer estava ainda mais desligado que o normal. Vestia suas roupas sempre muito bem dobradas e passadas e se entretia com uma lagartixa sem rabo que se debatia na parede. Se entreteu tanto que em vez dos tomates que deveria cortar, foi um pedaço de seu prórpio dedo que acabou arrancando: -Ah, cocozinho! - xingou – Vovó vai ficar irada! Isso é tão clichê! - e foi até uma das pias lavar o sangue que escorria livremente. Sneer riu com a situação do garoto. Gostava de Meyer ainda mais depois da inesperada reação no bosque. Seu sentimeno era proporcional ao de um pai após uma grande realização de seu filho. Esperava pelo fim da preparação daquela coisarada inútil; tinha seus prórpios assuntos para resolver. O prateado, o verde-limão e o azul-anil-marinho de sua vestimenta brilhavam no dia que ainda não raiara. Sofia reparava em todo aquele brilho. Era impossível não fazê-lo, era algo tão constante, tão chamativo. Sua atenção era disputada e ela se sentia incrívelmente bem com isso. Desde que sua mãe se fora, Gavin havia sido sua única certeza. Pensou nele enquanto espremia uma laranja. O suco voou diretamente para o branco de sua caríssima camisa. Hesitou. Linda parou também, havia cortado sua última maçã. Olhou para o lado e sentiu-se feliz. Percebeu que não se importava em dividi-la com Sneer, ela era boa o suficiente para os dois e no fundo começava a simpatizar com toda a extravagancia do garoto. Fez suco de meia maçã e limpou as mãos ácidas na apertada camiseta negra. Lyla ficou satisfeita ao constatar que a tarefa chegara ao fim. Todo aquele trabalho mecânico era bom para manter a mente ocupada enquanto essa insistia em vagar por outro lugar, contudo, o ácido ressecava sua mão e a ansiedade sua alma. Não escolhera aquele lugar por acaso, confiava na inteligência de Johnny. No fundo se sentia obrigada a dar ao garoto uma última chance. Tocou inconscientemente o pescoço com a mão ainda aspera e exclamou: -Acho que já é o suficiente. Todos concordaram em silêncio e largaram o que estavam fazendo. Enfiaram os sucos em jarras e as jarras nas mochilas. Embrulharam os sanduíches em papéis alumínio e posteriormente guardaram-nos junto com o suco. Meyer desistiu de estancar o corte e enfiou o dedo na boca, saciando temporariamente a sede com o próprio sangue. Saíram pela porta dos fundos. Sneer ficou: -Vão na frente, vou encobrir os rastros. Ninguém relutou em voz alta. A desconfiança se perpassava individalmente nas mentes mais perspicazes.
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u__u
Por Anônimo, Às 9 de novembro de 2009 às 14:44
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