Para variar as paredes eram brancas. A sala não era grande, num dos cantos havia um sofá verde-musgo, assim como as cortinas que encobriam a vista para o gramado externo. Ao fundo uma escrivaninha, atrás dela, sentado em sua confortável cadeira, o diretor Boss, com um terno tão impecável quanto a disposição de seus cabelos. Contudo a palidez de sua pele não era natural. A sala ainda fedia merda:
-Problemas diretor? - observou Gavin.
Mas o homem não respondeu. Olhava espantado para o garoto parado a sua frente, que percebendo isso, continuou:
-Sim, sou eu. Acusado de matar a família Aleksander. Acho que fiquei famoso – orgulhou-se.
O homem fez menção de pegar o telefone, mas Gavin advertiu:
-Não está funcionando. Pode ficar calmo, estou aqui a negócios e se isso realmente importa, eu não matei ninguém.
-O que você quer? - perguntou por fim Boss, num tom assustado.
-Você – e Gavin lembeu os beiços numa brincadeira provocante – ou uma vaga no St. Jimmy. Fiquei sabendo que irão reabrir esse ano, ainda posso sentir o cheiro da última reunião. - Boss corou.
-E por que você acha que um delinquente juvenil, foragido da polícia, iria estudar no St. Jimmy?
-Ora, porque você tem uma boa alma Mr. Boss – caçoou, de repente sua voz adquiriu um tom sério – ou porque o senhor ama muito a sua mulher e não iria querer que ela descobrisse o que você tem feito com a senhora Strong, sua secretária.
A raiva tomou conta do diretor. Aquele moleque não podia estar falando sério. Perdendo toda a compostura, explodiu:
-Você está blefando! - e apontou o indicador diretamente para os olhos de Gavin que acabara de se sentar a sua frente.
Mas o garoto sorria bobamente para um pen drive:
-Eu demoro dois minutos para mandar isso para a Sra. Boss, que apostar?
O diretor calou-se. Pensou por um instante, mantendo o intenso rubor que começava agora a tomar conta de sua careca. Gavin apanhou um papel da mesa dele, deixando-o ainda mais irado, no entanto, o homem não ousou se mover.
Tratava-se da lisa de alunos que frequentariam o St. Jimmy naquele ano. Procurou nomes conhecidos e não se surpreendeu quando deparou com o nome de Sneer Aleksander. O velho Baddy Teddy havia entrado em ação. Ao fim da lista parou ainda nos nomes de Fionna Strong, que deduziu ser filha da secretária e no de Meyer Leyer; o último não era estranho a ele, contudo se preocuparia em descobrir de quem se tratava depois. Pegou uma caneta da mesa a sua frente e anotou mais alguns nomes e endereços:
Johnny Fun – sentado na cadeira a sua frente;
Sofia Julia Gates Habsburg – Gold Avenue – Groeldy Beach;
Linda e Lyla Twin – Misery Beach – Saint Joseph.
Anunciou:
-Quero que esses nomes sejam integrados a lista também.
Vencido o diretor apenas abaixou os olhos para ler o que Gavin havia rabiscado num garrancho quase ilegível.
-Johnny Fun? Linda e Lyla Twin? - questionou.
-São duas gêmeas, o endereço delas é esse que eu anotei. Seria interessante que elas estivessem aqui esse ano. Johnny Fun é meu nome a partir de agora. - informou cordialmente – Tem mais uma coisa que preciso de você. Gostaria que não fizesse mais perguntas e somente concordasse e providenciasse o que eu vou pedir.
O homem assentiu relutante com a cabeça. Johnny tirou desafiantemente um baseado da cueca e acendeu-o enquanto reorganizava os pensamentos. Boss pareceu querer falar algo, mas a risada boba do garoto intimidou-o. Sentia vergonha de si mesmo, deixando que um garoto dissesse o que ele deveria fazer, logo ele, o diretor daquela porra toda!
Johnny soltou a fumaça na cara do diretor daquela porra toda, se divertindo com aquilo, antes de voltar a falar:
-Amanhã será seu último dia aqui. Vou precisar de suas roupas, depois você pode pegar o dinheiro que desviou todos esse anos – os olhos de Boss se arregalaram – e some por uns tempos. Quero que providencia comida suficiente para o ano todo, mais algum lugar onde possamos plantar algumas coisas. Quero pasta de dente, shampoos e tudo essa merda para o mesmo perído de tempo. Quero tudo que seja necessário para que trezentas pessoas vivam aqui confortávelmente por no mínimo duzentos dias. Quero também um investimento maciço no laboratório, vou precisar passar um tempo lá. Por último, gostaria que grave uma mensagem para mim. - E escreveu o texto cuidadosamente num papel.
O diretor o fitava perplexo. Esperava que mostrassem uma camera escondida e que um palhaço saísse de trás das cortinas e revelasse que tudo aquilo não passava de uma pegadinha. Johnny retornou em seu tom persuasivo:
-Então, feliz? Acabou de ganhar um ano de férias, ninguém vai notar o que se passará por dentro desses muros, eu te garanto. Faça toda a porra que te falei antes e estará dispensado.
Johnny levantou-se da cadeira e deu uma última tragada no baseado :
-Vou precisar de dinheiro também, uns quinze mil devem bastar. Volto amanhã para nos acertarmos – ergueu o pen-drive – lembre-se disso, te mando um e-mail para provar que não estou blefando, agora você é minha putinha.
Johnny curvou-se para a o diretor e estralou um beijo sem sua careca molhada. Deixou o baseado interminado no porta-lápis e saiu porta afora:
-Foi assim que cheguei ao St. Jimmy. Eu ouvi a conversa de Baddy Teddy Aleksander com o neto antes de fingirem seu assassinato e me incriminarem por tudo. Ele falou dos três milhões de dólares e achei que poderia ser divertido – finalizou Johnny para um atento Andy, que absorvia todas as palavras como uma esponja musculosa.
Música: Holiday - Green Day
1 Comentários:
Que bando de filhos-da-puta esses Aleksander malditos. Genial esse capítulo.
Por Anônimo, Às 28 de outubro de 2009 às 17:15
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