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59 - Charlie e Lichba
quarta-feira, 7 de outubro de 2009


Charlie acordara com as explosões ao longe. Apalpou esperançosamente o colchão, mas percebeu que tudo aquilo não passara de um sonho. O melhor de sua vida.

Sentou-se na cama e ficou pensando em Lichba. A garota lhe parecia estranhamente próxima espiritualmente, contudo, físicamente se encontrava paradoxalmente distante. Isso o incomodava, precisava resolver essa situação.

Levantou-se com cautela para não acordar as centenas de alunos que dormiam ou fingiam fazê-lo por ali. No trajeto até o banheiro percebeu que alguma camas estavam vazias: Sneer Aleksander, Meyer Leyer, Andrew Jordan, David Courtney, Tim Krabby, Lars Doyle e claro, Johnny Fun.

Chegando ao seu destino, contemplou sua imagem medíocre no espelho. Os cabelos estavam bagunçados e a cara amassada. Pela primeira vez na vida atreveu-se a pensar foda-se.

Tinha a estranha sensação de que encontraria Lichba em sua caminhada noturna. Saiu do dormitório masculino e desceu as escadas. Ao passar pelo laboratório, viu que as luzes estavam acesas. Apesar do repentino desconforto em sua barriga, sentia-se extremamente feliz.

Se encaminhou até lá, mas para seu desapontamento, uma garota de cabelos e olhos castanhos, pouco mais baixa que ele, com aparelhos nos dentes e espinhas singulares na testa, que ele reconheceu como Marie Santana, trabalhava sozinha.

Quando ela o viu não conteve o riso. Não era para menos, Charlie vestia um ridículo pijama de marinheiro e mais parecia um zumbi vagando fofamente pelos corredores. No entanto a menina foi gentil e quando conseguiu parar de rir disse:

-Lichba acabou de sair. Não disse para onde ia, mas a essa hora deve ter ido dormir. Com azar você ainda encontra ela.

Charlie saiu sem agradecer a informação. Suas expectativas já haviam murchado, mas como não conseguiria tornar a dormir tomou o rumo da sala de estar. Bilhar ajudava-o a relaxar.

Desceu mais um andar e parou na porta do salão. Pode ouvir um choro e deduziu que não estava sozinho. Deu mais um passo com a intenção de descobrir quem era seu companheiro, afinal nesse dia o que não faltavam eram camas vazias. Torceu apenas para que não fosse Meyer, as vezes o garoto extrapolava o limite da excitação. Levantou os olhos sem muita coragem e sentiu o coração acelerar. Lá estava Lichba. Meyer provavelmente julgaria essa cena como um clichê desnecessário.

Bateu levemente na porta para anunciar sua presença. A garota olhou assustada para a porta, porém logo abriu um belo sorriso, tentando disfarçar as lágrimas:

-Desculpe-me, - começou Charlie – insônia. Cá estava eu vagando e por acaso ouvi seu choro. Algum problema? - foi se aproximando da menina enquanto falava e sentou-se ao lado dela num dos sofás de couro marrom.

-Tantos quanto possa imaginar. Sinto saudades de casa, da minha mãe, do meu pai, meus irmãos, minha cama. Preciso voltar. - queixou-se – a cada dia mais pessoas morrem e desaparecem por aqui. Não quero ter o mesmo fim. Eu ainda tenho uma vida inteira pra viver! - E os olhos dela voltaram a se afogar em lágrimas.

Lichba parecia resumir bem o que todos no St. Jimmy sentiam: medo, saudades, desespero. Charlie no entanto estava incrívelmente calmo e controlado. Era como se fizesse aquilo todo dia.

Pegou a mão gelada da garota e olhou fundo em seus olhos:

-Não se preocupe, nada de ruim vai te acontecer, logo sairemos daqui. Prometo – contudo ele não acreditava em nenhuma palavra que dizia. Já Lichba não se importou e partiu para um abraço que ele desejou que durasse para sempre:

-Belo pijama – caçoou a garota, tornando a abrir o belo sorriso. Os dois voltaram a se olhar.

Ele não respondeu nada. Ficou calado contemplando a beleza dos olhos dela. Aproximou sua boca da dela, sem muita convicção e fechou os olhos. O que veio a seguir foi melhor que em qualquer um dos seus sonhos.

Os dois passaram a madrugada ali, sem se importar com Linda, Lyla, Sofia, Meyer, Meyer, Sneer e Meyer novamente que transitavam agitadamente pelos corredores.


Música: When We Die - Bowling For Soup


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