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50 - Charlie
segunda-feira, 14 de setembro de 2009


Charlie saiu discretamente do dormitório masculino. Checou mais uma vez o hálito antes de descer as escadas rumo ao laboratório; vestia uma camisa xadrez em azul e vermelho, uma bermuda lisa bege e um mocassim marrom sem meia. Havia passado gel nos cabelos e na mão trazia um buquê de flores colhidas por ele mesmo.

Chegando a seu destino encostou-se numa parede de modo que pudesse observar o entra e sai do laboratório sem ser visto. Descarregou as tensões e ficou recordando as falas rigorosamente ensaiadas na frente de um espelho. Não precisou esperar muito até que Lichba saísse. Tomou coragem que teimava em escapar-lhe pelas mãos suadas e revelou-se, estendendo as flores para a garota que pareceu surpresa:

-O..obrigada! São lindas – ouvir aquela voz foi o suficiente para que esquecesse tudo o que havia decorado. Ficou encarando-na, tentando pensar em algo para falar , mas em sua mente era povoada somente por geladeiras.

Um silêncio constrangedor tomou conta do local. Ambos sabiam o que queriam dizer, porém nenhum dos dois dizia. Após muito lutar contra sua boca que insistia em tremer e sua voz que insistia em falhar convidou:

-Me acompanha num passeio até o lago? Pensei que talvez gostasse de ver a Lua cheia.

Para o alívio de Charlie, Lichba concordou com um sorriso desnorteante e os dois desceram as escadas sem pronunciar nenhuma palavra. Somente ao sentirem o cheiro convidativo da noite é que a garota falou:

-Está uma bela noite.

Ela era ligeiramente mais alta que Charlie e ele precisou olhar para cima para responder:

-Não tão bela quanto você. - As palavras escapuliram despretensiosas de sua boca.

-O que disse? - Ela havia adorado ouvir aquilo, por isso pediu para que ele repetisse.

Em pane e com medo que seu comentário saísse atrevido demais , Charlie corrigiu:

-Adoro bolo com patê.

Lichba abafou uma risada ao perceber os efeitos colaterais do nervosismo de seu companheiro de caminhada. Resolveu mudar o assunto enquanto os passos avançavam sem pressa:

-Você sabe de tudo que se passa por aqui?

-Conheço tudo como a palma de minha mão. - Mas as palavras saíram abafadas por uma tosse, resquício de uma gripe. Não entendendo nada, a garota perguntou novamente:

-O que?

Achando que Lichba julgara seu comentário por demais pretensioso, mudou-o.

-Menos o que há em seu coração.

Foi quando pararam a beira do lago. A lua refletia romanticamente nas águas escuras. Sem querer perder mais tempo a garota pediu:

-Feche os olhos.

-Você não vai me sacanear né? Colocar terra ou sei lá, porque uma vez, quando eu estava na sétima série...

Mas não pode terminar a história. Algo molhado antingiu docemente sua boca, fazendo-o calar-se imediatamente. Abriu lentamente os olhos e se viu muito próximo da menina, que após algum tempo de beijo confuso e desajeitado declarou-se:

-Você é um fofo!

A êxtase dentro dele era tão grande que ao ouvir o elogio seu coração disparou, sua barriga ficou quente e pode sentir sua testa em chamas. Era melhor do que ele havia imaginado. Os dois passaram a noite á beira do lago, abençoados pela lua e alienados pelo amor.


Música: The Angel and the One - Weezer


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