Desde que Lichba fora citada em sua última conversa com o misterioso sequestrador, Charlie se dera conta de que já havia passado a hora de agir. O único problema, que o impedia de tomar uma atitude desde o início, era que ele não tinha a mínima ideia de como começar uma relação com a garota. Nunca havia saído com uma e não conseguia pensar no que deveria fazer. Foi quando se lembrou de que conhecia alguém perfeito para ensiná-lo: Johnny Fun. Foi até o terceiro andar com a intenção de falar com ele, no entanto só encontrou David parado em frente a porta trancada. Foi recebido com um aviso: -Johnny está ocupado no momento, sugiro que volte mais tarde, deve demorar. - advertiu. -Sem problemas, eu espero. - Julgou ser uma boa opção, já que não tinha outros planos em mente. E Charlie esperou. Enconstou-se na parede e esperou. Horas se passaram nas quais só se ouvia e imaginava o que se passava lá dentro. David não se mostrara uma boa companhia e os dois não trocaram mais nenhuma outra palavra. Quando finalmente Charlie adormecera, o som da porta se destrancando tornou a acordá-lo. Cinco garotas saíram de lá, algumas aos sorrisos, outras semi-nuas e por fim Lichba. Aquilo fez seu coração acelerar. Ela estava completamente vestida e não apresentava sinais de que estviesse chapada, porém ele conhecia Johnny e o fato dela estar lá dentro com ele já era o suficiente para dar um banho de água fria em suas pretensões. Foi tirado desse ciúme repentino quando os olhos negros da garota cruzaram os seus. Sentiu-se ruborizar, levantou roboticamente a mão direita num aceno desajeitado, mas de sua boca saíram palavras estranhas para ocasião: -Vendo geladeira usada, cor branca, tratar comigo. A frase fez outras duas garotas gargalharem humilhantemente; Lichba no entanto apenas abriu um belo sorriso e se afastou. Charlie ficou observando até que mais nenhuma ponta de seu cabelo black power fosse visível. Por fim se virou e entrou na sala. Johnny iniciou a conversa: -Sinto em lhe informar mas não estou interessado em geladeiras. Caso tenha algum outro assunto a tratar sente-se e acenda um baseado; caso não boa sorte com Lichba. Charlie espantou-se com a capacidade de Johnny de ler as pessoas. Abismado disse: -Como...como você sabe? -Você ainda está vermelho. Acredite em mim, tenho experiência com garotos vermelhos apaixonados- e fez uma imitação tosca que Charlie reconheceu como Sneer. - Ela é uma boa garota, boa até demais. Deixa a vida passar, não bebe, não fuma, não fode. Era como se ele insultasse o próprio Charlie usando um vocabulário tão chulo e uma despretensão tão grande tão grande na voz ao tratar de Lichba. Mas o peso que a frase havia tirado de suas costas e o fato de precisar do garoto fizeram com que ele não emitisse qualquer comentário. Adivinhando seus pensamentos novamente, Johnny prosseguiu: -Então, ela sabe que você existe? - era como um psicólogo agora. Do outro lado da mesa acendeu um cachimbo, entrelaçou os dedos e levantou uma sombrancelha, adquirindo um ar de intelectual que não poderia combinar menos com ele. -Se ela quiser uma geladeira, acho que sim. - Charlie caçoava da própria desgraça. A risada que veio em seguida foi calada por um carrancudo pigarro. -Não, aquela troca de olhares não foi besteira. Ela definitivamente sabe que você existe, isso ajuda bastante. -Como...como você sabe? - No fundo contudo ele já desistira de entender Johnny, o que eu foi bom, pois não houve resposta alguma. O pálido garoto soltava baforadas em círculos do que houvesse em seu cachimbo e apesar de repetir em voz baixa “eu sou o Gandalf”, seu cérebro parecia estar pensando em outra coisa, pelo menos era o que Charlie esperava. Muitos “Gandalf”s e muita fumaça depois veio o veredicto: -Não adiantaria espalhar rumores falsos seus por ai, ela não é do tipo garota-influenciável-sedenta-por-sexo. Portanto fale com ela, faça uma visita ao laboratório quando ela estiver de saída. Leve flores, convide-a para um passeio a baira do lago; estamos em lua cheia, isso deve ajudar. Conte para ela como se sente e tente evitar falar de geladeiras ou qualquer outro eletrodoméstico, ela pode achar isso machista. Use perfume e tenha certeza que o hálito está bom. Deixe ela te beijar quando acabar o assunto.- Após dizer isso largou o cachimbo em cima da mesa, olhou para o relógio na parede atrás de Charlie e concluiu: -Foram 22 minutos. São R$ 83,12. - E estendeu a palma da mão. Ao perceber os olhos arregalados de seu “cliente” disse: -Brincadeira, boa sorte. Se por acaso você filmar, me mande uma cópia. Aliviado e assustado Charlie se levantou, mas antes que pudesse sair Johnny fez uma última pergunta num tom de voz preocupado: -Alguma notícia de Lyla? -Achei que não fosse perguntar. No bosque, você tem 24 horas. É tudo o que sei – disse apontando para um hematoma no pescoço. Johnny nem sequer percebeu quando a porta se bateu com força. As engrenagens de seu cérebro trabalhavam a todo o vapor, seu plano havia funcionado.
Música: Pretty Fly for a White Guy - The Offspring
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