Os dias após a festa transcorreram sem pressa nem novos incidentes. A chuva ameaçava constantemente o St. Jimmy e um frio até então desconhecido ganhou aos poucos seu espaço.
A crença em Sneer era agora quase inexistente, já não havia mais Estado nem Inteligência, na situação que beirava a anarquia agora era cada um por si. Com a falta de cuidados e a repentina mudança no tempo, se ouvia em qualquer canto: tosses, espirros e narizes sendo assoados a todo momento.
Contudo o colrido garoto parecia não se importar com tudo isso, pelo contrário, era visto com frequentes sorrisos, as vezes ao lado de Sofia e nas outras ao de Meyer. Vivia num mundo paralelo à todo aquele terror planejado .
Tudo parecia se encaminhar para um longo e triste fim, no qual o St. Jimmy terminaria pulverizado, explodido em ruínas e sem vida humana restante.
Mas para Johnny, só parecia.
Devido ao frio, o garoto havia transportado seu escritório para uma sala inicialmente vazia no terceiro andar, que agora contava com uma grande escrivaninha, duas poltronas pretas de couro, algumas cadeiras bem distribuidas e até um quadro com uma mulher nua que ele havia surrupiado da secretaria. Num canto, desmontada estava uma rede na qual ele costumava passar suas raras noites desacompanhadas.Os corredores daquele andar estavam voltando a se acostumar com o movimento que um dia ali houvera. Na maioria eram garotas entrando e saindo, mas também Charlie, David, Andy e quando ninguém via, Meyer Leyer.
No momento, era Linda quem estava lá e vestindo pouquíssima roupa:
-E agora, o que vai fazer?- Estava sentada no braço da poltrona que Johnny ocupava.
-Eu acho que você sabe – seus olhos tinham o brilho de um predador avistando um presa especialmente suculenta. Deu uma tragada no baseado que segurava e passou-o para a ruiva impaciente a sua frente.
-É sério Johnny! Isso aqui virou uma zona, ouvi dizer que até uns filhos-da-puta de uns nazistas apareceram por aqui.
-É verdade, mas Andy vai dar um jeito neles – e soltou uma gargalhada enquanto imaginava a cena - pro resto eu sempre tenho um plano, baby.
-Linda se aproximou dele, como um rato vai para o queijo e com suas mãos magrelas apertou as bochechas do garoto. Com a sua boca colada no ouvido dele sussurrou:
-Espero que esse plano não envolva foder minha irmã.
-Não literalmente – abriu um sorriso como se estivesse ganhando um prêmio por aquilo – envolve pescaria, e além do mais eu fiz minha escolha, estou aqui com você, não estou?
Antes que Linda pudesse dar a resposta pervertida que havia imaginado, a porta se abriu. Parada ali, perplexa e com lágrimas nos olhos outrora tão brilhantes estava Lyla; numa voz chorosa e histérica gritou:
-Foi a mesma coisa...a mesma coisa – era difícil continuar – que esse filho-da-puta me disse.
Linda encarou Johnny com um misto de ódio e nojo no olhar, em seguida deu-lhe um tapa na cara boba. Não satisfeita deu outro anunciando:
-E esse... esse é pela minha irmã.
A ruiva vestiu-se o mais rápido que pode e as gêmeas saíram da sala, deixando-o sozinho, sem poderem escutar o que viria a seguir:
-Espere! Eu...-terminou a frase para si mesmo – por mais que queira, não posso explicar.
Fora tão difícil quanto ele imaginou que seria.
Música: Everthing Falls Apart - Zebrahead
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