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78 - Lyla
domingo, 20 de dezembro de 2009


Lyla estava num lugar estranho. De repente não havia mais som, não havia a rocha, nem os pequeninos musgos que lá moravam, não havia o mar e sua brisa cheirosa, a floresta ou a borboleta alienígena; tudo aquilo havia sumido. Agora ela se encontrava num ambiente no mínimo divertido. Figuras geométricas se alternavam nas paredes, tingidas com cores saltitantes e vibrantes nunca antes vistas pela garota; Sneer iria gostar daquilo.

Passeou pelo cômodo que não tardou a constatar que era triângular. Sentiu-se presa. Não pode ver até que altura subiam as paredes, mas elas pareciam convergir no além, formando uma pirâmide.

Estava insegura, com medo. Teria morrido? Ou apenas desmaiara? Talvez uma alucinação real demais para ser descartada? Ou ainda uma mistura das três coisas? Não sabia dizer, uma voz veio auxiliá-la:

-Lyla?

A loira olhou para trás. Um quadro brotara em meio ao turbilhão de cores. Ela se aproximou:

-Sneer? - definitivamente era o garoto lá dentro – Onde estamos? Todas essas cores, deveria ter imaginado que era alguma coisa sua. Acabe logo com isso, precisamos voltar.

O menino ignorou a maioria do que ouviu e apenas respondeu:

-Apesar de ser de incrível bom gosto, estamos na sua cabeça. Onde mais estaríamos? - Aquilo deveria ser muito óbvio.

-E como eu vim parar aqui? O que você faz aqui? Como saio daqui?

-Se alguém sabe os detalhes sobre uma cabeça é a dona da cabeça. Mas não se preocupe com tanto. O que você precisa você conhece; o resto é inútil.

-É – concordou Lyla, aquilo era verdade. Não sabia o porque, mas já que estava ali iria aproveitar – Me desculpa. Nunca fiz a gente dar certo.

-Não tem problema – os olhos apertados do garoto eram reconfortantes – não era pra dar certo mesmo. Estou aqui como amigo, você precisa entender isso pra se libertar.

Um cronômetro começou a piscar em algo que lembrava um vermelho enjoado acima do quadro. Assim que o zero tomou conta da pequena tela o quadro rodopiou e desapareceu. Em seu lugar apareceu um cícrculo roxo ou laranja. Lyla ainda implorou:

-Espere!

A resposta veio, contundo em outro lugar e numa voz diferente:

-Ele se foi, o tempo dele acabou, mas logo volta. Sempre volta.

Era Linda. A voz da irmã fez os pelos do braço de Lyla se levantarem. Virou-se e deparou-se não com a ruiva explosiva, mas sim com uma loira sorridente de cabelos pouco mais curtos que o dela e com um único e solitário piercing de argola no nariz:

-Linda! Você também está aqui!

-Eu vou sempre estar com você, nada vai mudar isso. Não importa o quanto forem diferentes nossos caminhos, sempre estaremos juntas.

Era estranho ouvir a agora não mais ruiva falar daquele jeito, porém Lyla não deu importância para aquilo. A simples presença da irmã foi o suficiente para fazer marejar seus olhos. As lágrimas atingiram seu máximo quando um telão apareceu logo acima do quadro.

Duas meninas de um loiro quase branco com uns 8 anos de idade choravam abraçadas. Uma mulher mais velha se aproximou delas e perguntou:

-Lyla, por que está chorando?

-Porque a Linda está, mamãe.

A mulher virou-se para a outra garotinha:

-E por que você está chorando Linda?

-Por que a Lyla também está, mamãe.

A mulher sorriu e o telão se foi. O quadro desaparecera, as lágrimas não.

Ainda chorando a loira virou-se para a parede restante. Um grande trevo de quatro folhas brilhava lá. Sentiu seu pescoço fazer o mesmo. Não se surpreendeu quando um terceiro quadro surgiu e retratado nele um garoto loiro, com um sorriso bobo e olhos tão azuis quanto poderiam ser dos quais so dela não ousavam desgrudar. A sensação era divertida, como se o medo fosse embora, como se ela fosse capaz de qualquer coisa:

-E você é. - confirmou o lindo garoto.

-Como você sabe o que eu estava pensando?

-Estamos em sua cabeça, o que você pensa aparece escrito.

-Devo te chamar de Johnny ou de Gavin?

-Meu nome não é Johnny. Quem você ve aqui?

-Não sei, eu vejo você e você é Johnny e Gavin.

-Meu nome não é Gavin. Sou os dois, não sou nenhum. Você é a única que entende isso, sempre foi. Consegue olhar dentro dos meus olhos e realmente ver o que há lá. As coisas podem não estar bem agora, mas isso não significa que não terminarão bem. No fim será sempre eu e você, baby. Nunca se esqueça disso.

E ele se foi. Lyla contemplou sua mente; tinha ali tudo o que precisava : amor em todas as suas formas. Sentia-se muito confortável ali, entretanto era hora de voltar.

A pirâmide foi adquirindo diferentes dimensões até que Lyla não pode mais contá-las. Sentiu algo molhado. Abriu os olhos e murmurrou:

-Parem de me lamber.

Funcionou.

Música: Read My Mind - The Killers




77 - Andy e os hobbits
sábado, 12 de dezembro de 2009


-Johnny! Johnny! - chamava Andy sem no entanto obter resposta satisfatória.
Já fazia cerca de uma hora que o garoto saíra atrás de Lyla e desde então não dera mais sinal de vida. O sol já nascera e, cercado por algumas nuvens, se impunha no céu. Quando Andy chegou a conclusão que Johnny não estava mais no rochedo foi até Sneer e Sofia que ainda eram uma só imagem:
-Veja Sofia, Papai Noel chegou mais cedo esse ano! - alegrou-se o garoto enquanto apontava o dedo magrelo para Andy.
-Não seu birutinha! Papai Noel não existe, ele é o Vovô Noel.- corrigiu a garota.
Foi o suficiente para que a dulpa caísse na risada. Andy irritou-se, sua paciência escapava com cada vez mais facilidade:
-Será que vocês poderiam pelo menos se vestir?
-Mas eu estou vestido - lembrou Sneer – vestido com amor.
Os dois tornaram a se enroscar num barulhento beijo. Andy virou a cara evitando a cena constrangedora. Ocupou-se recolhendo as mochilas espalhadas pela rocha e só voltou quando os ânimos do casal se acalmaram. Teve uma ideia:
-A festa de Natal já começou, vocês não vão vir?
Sneer levantou-se de imediato, intrigado com aquilo:
-Festa de Natal? Vamos Sofia?
Ainda sorrindo de satisfação, Andy ordenou:
-Me sigam.
-Siga o Vovô Noel – exclamou a garota.
Andy foi na frente, conduzindo os dois de volta para o prédio princiapl. Não foi um trajeto fácil, mas não era difícil se achar graça nele. Como por exemplo quando, dando-se conta de que ainda estava nu, Sneer alegrou-se:
-Olha Sofia, somos hobbits! - apontou para o peito do pé.
-Somos hobbits indo para a festa de Natal! - completou a garota numa voz artificial. Provavelmente essa era uma habilidade de família.
As coisas não melhoraram depois disso. Constantemente eles se distraíam com borboletas ou outros insetos e até mesmo com coisas que não estavam ali:
-Eu vi um Pikachu! Lá naquela árvore – contou Sneer para Andy. Este ainda se incomodava com o fato daquele estar nu e somente disse:
-Temos que correr, não podemos nos atrasar.
Andy perdeu as contas de quantas vezes essa frase foi necessária. Aliviou-se quando as árvores começaram a cessar. Atravessou o campo, onde a plenitude dos olhares se concentravam neles. Incrívelmente duas pessoas nuas e saltitantes chamavam a atenção. Aonde esse mundo iria parar assim?
Ao passar pelo refeitório Andy parou Charlie e Lichba que saíam de lá:
-Drogas – explicou ao constatar a indagação tangível.
O fato de Sneer perguntar a todo momento onde estavam as renas e os duendes não ajudava muito, mas a explicação do garoto músculoso pareceu ser suficiente para que ele pudesse tornar a falar:
-Por acaso vocês viram o Johnny?
-Por acaso ele está na enfermaria – Charlie narrou o acontecido e o trio foi na direção do destino indicado.
Subindo as escadas encontraram Johnny fumando, largado, com menos cor ainda que o normal, numa poltrona. Deitada numa cama próxima a ele estava Lyla. O garoto riu ao avistar o casal:
-Pena que ela é minha irmã.
Andy ousou olhar para Sofia que cheirava Lyla. Os olhos se demoraram mais que ele havia planejado. Sneer inquietou-se:
-Então você é um duende também? - perguntou para a loira.
Andy e Johnny decidiram por ignorar o casal:
-Cadê Linda? - perguntou o segundo menino.
-Deve estar chapada por aí, logo aparece.
-Merda, isso pode ser perigoso.
-Ela se vira melhor que nós dois juntos.
-Não chapada...- porém Johnny foi interrompido por um resmungão:
-Parem de me lamber.
Sofia parou imediatamente

Música: I Won't be Home for Christmas - Blink 182



76 - Linda e tomates
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009


    Linda ainda dançava empolgadamente, espalhando sem pudor as mechas vermelhas. O cansaço se tornava mais presente a cada passo. Enquanto trilhavam rumo aos campos de morango a garota observava a família tomate. Eram 4 no total: o senhor tomate que agora fumava imponentemente seu charuto, a mãe tomate que implicava com o moecano verde do filho tomate e por fim a bela tomata filha que dançava ao lado de Linda:

    -Eu pegaria você sabe? – disse a ruiva para a tomata que imitava seus movimentos – Se você não fosse um tomate. Porque acho que acabaria te mordendo, sabe? Você é tão vermelinha, suculenta, seria difícil resistir. As frutas vermelhas devem gamar.

    A bela tomata corou e nada respondeu, em vez disso começou a dançar ainda mais frenéticamente, motivada pelo elogio. Linda deixou-a de lado e foi ter com o tomatinho punk:

    -Cabelo legal. Já tive cabelo verde, as pessoas me chamavam de Maria Joana – contou.

    -Sou contra o sistema – protestou o tomate – está tudo errado! Só vou nessa festa idiota porque minha mãe mandou, por mim eu estaria num bate cabeça! - ele estava vermelho de raiva.

    -Mas num bate cabeça você não iria acabar virando molho de tomate? - Linda estava confusa com aquilo.

    -Não, sou contra o sistema – lembrou o tomatinho.

    -Ah é! - as coisas agora estavam mais claras – então você acredita em utopia?

    -Utopia? Eu sou é contra o sistema! Olha meu moecano!

    A ruiva olhou mas tudo o que sentiu foi fome. O vento se distribuia desigual, gelando partes esparças de seu corpo. Voltava a dançar quando a mãe tomate a chamou:

    -Me desculpe pelo meu filho, ele é apenas um jovem.

    - Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição – citou Linda.

    -Ele é apenas um jovem – recordou a tomata – ainda tenho que cortar suas unhas...

    -Vocês tomates são bem repetitivos – Linda irritou-se tanto que até parou de dançar. O som da música já não chegava mais até seu nariz, a paisagem fedia amargamente e seus poros expeliam raiva gasosa. - e além do mais, tomates nem tem unhas! Isso é errado! - Antes que a fissão dos átomos da garota se completasse no entanto o senhor tomate inteveio:

    - Minha cara, - deu uma tragada pomposa no charuto – O que existe é um conceito lógico, objetivo. Aplicando-se a ele os fatos, produtos de nossa experiência, temos as consequências e estas são subjetivas, não cabendo a ninguém, seja ele tomate ou ser humano, julgar, mas sim, entender. Se você procurar o certo e o errado tudo que vai achar é sua opinião, se é que tem uma. Viverá alienada na mediocridade. - o tomate concluiu seu raciocínio após soltar estrutura de um átomo na fumaça – Nós achamos extremamente estranho que humanos falem, ou que sigam todos uma mesma doutrina, que deixem os outros dizerem o que eles tem que fazer, contudo, respeitamos isso. Não acreditamos conhecer tudo e por isso sabemos mais. Temos a mente aberta para novas ideias. Por se acharem tão complexos não entendem que toda essa complexidade só gera ignorância. A utopia é simples.

    Porém, Linda ainda assistia ao átomo de fumaça se dissolver no ar e não deu muita atenção ao sermão, não precisava daquilo. Só redirecionou os olhos para onde andava, quando uma música estranha e distante, mas muito agradável tomou seus ouvidos. Pode ver algumas tendas se erguendo num clarão no meio do bosque. Uma placa indicava:

    BEM VINDO AOS CAMPOS DE MORANGO


    Música: Lucy in the Sky with Diamonds - The Beatles




75 - Charlie, Lichba e Johnny
domingo, 6 de dezembro de 2009


Mais tarde pensaria estar tomando sua primeira atitude altruísta na vida. Se enganaria. Por mais que Lyla fosse a maior beneficiada com a tentativa do ato heróico, ele também o seria. No fim o altruísmo nada mais era que o egoísmo com um álibe. No fim é o egoísmo que alimenta as ações humanas. Johnny correu sem mais se preocupar com os seus pés que patinavam ou com o vento, que vindo de encontro seus olhos os fazia arder e lacrimejar. Correu o que pode e o que não pode, mas nada mudou a situação, ainda sorrindo Lyla sangrava em seus braços .
Lichba abriu os olhos e demorou um pouco para se lembrar de onde estava: nas piscinas do St. Jimmy, deitada numa das desconfortáveis redes. Ao seu lado Charlie.
Reparou que fazia um belo dia. O sol brilhava lá no alto, esse talvez era o principal motivo por ter acordado tão cedo, e o céu era exuberantemente azul.
Apesar das poucas horas de sono não sentia-se cansada, mas incrívelmente relaxada.
Tentou saltar discretamente da rede para apanhar suas roupas jogadas no chão. Não conseguiu e a intensa movimentação acordou Charlie:
-Bom dia – desejou o garoto com os olhos ainda semicerrados.
-Sem dúvidas – retrucou Lichba – você melhorou muito noite passada, quase passou de um minuto! - elogiou.
O garoto corou. Esse ainda era um problema a ser trabalhado:
-Dizem que da nona vez é melhor.
Lichba concordou com um belo sorriso enquanto terminava de vestir o shorts branco:
-Eu prefiro você sem isso – constatou o garoto temendo soar por demais pervertido.
-Então vem tirar – a voz dela era provocante.
Charlie tentou sair da rede, mas seus pouco coordenados movimentos fizeram esta se virar e ele cair de cara no chão:
-Formigas – reparou.
Lichba riu:
-Não se preocupe, um beijo sara.
-É, eu ouvi falar.
E já de pé novamente foi testar a teoria.
O casal só se desgrudou novamente quando perto dali um sinal avisou que o café-da-manhã havia começado.
Vestidos, abandonaram a piscina rumo ao refeitório. Ao passar pelo campo se depararam com algo se movimentando há uns 15 metros deles. Desviaram rapidamente o olhar, contudo uma voz conhecida os fez parar:
-Ei, esperem! Preciso de ajuda aqui!
Era Johnny. Pela primeira vez em quase um mês o garoto saíra das profundezas do bosque, logo o assunto deveria ser realmente sério.
Somente quando se aproximaram uns 5 metros é que Charlie notou que ele carregava algo nos braços: Lyla. Imediatamente temeu pelo pior:
-O que houve? - perguntou Lichba.
-Ela caiu, estava chapada. Bateu a cabeça preciso levar ela pra enfermaria – a obstinação de Johnny vencia o cansaço e a agonia.
-Cadê o resto? - indagou Charlie.
-Não sei, que se fodam eles. Me ajudem aqui.
Os três seguiram rumo à enfermaria.
Quinze minutos depois, quando os ferimentos de Lyla já haviam sido limpados e fechados é que Lichba deu o diagnóstico:
-Minha mãe é enfermeira e por convivência acabei aprendendo alguma coisa. Fizemos tudo o que podíamos dentro das nossas possibilidades e dos nossos conhecimentos. Meu palpite é que ela acorde ainda hoje e que ficará bem.
Johnny fitou a loira desacordada na cama. O trevo voltar a ser verde. Teve que concordar:
-É, vai ficar bem.
O casal abandonou a sala deixando o garoto sozinho com Lyla. Ele caiu ruidosamente numa das poltronas e acendeu um baseado. Precisava relaxar, muita merda ainda estava por vir.

Música: Look What You've Done - Jet



74- Johnny e Lyla
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009


Quando terminou de escalar o extenso rochedo, Johnny se lembrou, do pior modo, que este era muito maior do que aparentava lá de baixo. A fusão do verde-escuro da mata, com o azul-claro do mar era espetacular:

-Caralho – elogiou.

-É lindo – concordou Andy.

Deram alguns passos na direção do centro da rocha até que avistaram Sneer e Sofia. Estavam chapados e transando de modo que não deram a mínima importância para a presença de estranhos. Estranhamente esse fato pareceu perturbar mais Andy que Johnny. Este apenas pegou sanduíches e uma jarra de suco numa mochila e continou assistindo orgulhoso ao casal; aquele passou reto, evitando olhar já que os sons produzidos eram suficientes para alimentar sua mente:

-Algum sinal de Lyla, Linda ou Meyer? - perguntou Johnny.

O silêncio de Andy foi a resposta:

-Certo, você procura por ali e eu vou por aqui. Não lembrava que essa merda era tão grande.

Andy se afastou aliviado. Johnny continuou caminhando, tomando cuidado para não escorregar na pedra lisa. Observou a mata lá embaixo. Um tombo não seria nada agradável. Dava uma última mordida no sanduíche quando ouviu a voz de Lyla. Parou imediatamente sentindo seu coração acelerar.

Ela estava linda e sorria. Aparentava estar leve, alegre e despreocupada numa intensidade que ele raramente a via. Desviou o olhar para o mar, este compactuava com o estado de espírito da loira; as ondas eram mansas e o som delas se chocando com as pedras distantes era harmonioso:

-Volte aqui borboletinha. Volte aqui! - Pedia Lyla num tom de voz quase triste.

A garota se encaminhou inconscientemente para a beirada do rochedo:

-Merda.- foi tudo o que Johnny teve tempo de falar antes de sair correndo atrás da garota. A adrenalina em seu sangue aumentou, concentrou-se naquilo, parecia atingir uma velocidade inacreditável. De repente só se preocupava em deixar a menina longe do perigo.

Tarde demais.

A queda foi em câmera lenta. Do alto do rochedo ele só pode observá-la pisando em falso no ar e tombando para a frente. O corpo caiu pesadamente esbarrando nas rochas até chegar ao chão.

O desespero tomou conta dele. A adrenalina aumentava. Quase foi tomado pelo instinto de pular dali, mas seu cérebro falou mais alto advertindo-lhe que todo fodido não seria de utilidade alguma. Procurou algum lugar por onde pudesse descer enquanto praguejava:

-Merda! Caralho! Puta-que-pariu!

Escorregou pelo rochedo como um gato, pulando agilmente de pedra em pedra e chegando ao chão numa rapidez incrível.

Ao chegar viu o corpo de Lyla esparramado na grama poucos metros a frente. Correu até ele.

Olhou um instante, talvez o último, no fundo daqueles olhos antes que eles se fechassem.

Sentiu-se sufocado, desesperado. Extremamente desesperado. O controle de que tanto precisava lhe fugira, todo o resto se tornara obsoleto:

-Lyla! Lyla! - gritou - Não! Fale comigo, porra! Por que vocês tinham que inventar de se chapar no alto dessa porra?

Contudo não houve resposta. Havia desmaiado, mas ao menos ainda respirava.

Foi só então que viu o trevo do outro lado do pescoço. O verde dera lugar a um vermelho. Todo aquele lado estava vermelho, o sangue jorrava de um ferimento na cabeça, causado provavelmente por uma colisão com uma pedra durante a queda.

Pegou-a no colo, cuidando para que a cabeça não tombasse. Sentia na pele o alívio em cada inspiração e o medo de que esta não se repetisse:

-Merda! - chingou uma última vez.

E saiu rumo ao nunca antes tão longínquo prédio principal.


Música: Fall to Pieces - Velvet Revolver