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76 - Linda e tomates
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009


    Linda ainda dançava empolgadamente, espalhando sem pudor as mechas vermelhas. O cansaço se tornava mais presente a cada passo. Enquanto trilhavam rumo aos campos de morango a garota observava a família tomate. Eram 4 no total: o senhor tomate que agora fumava imponentemente seu charuto, a mãe tomate que implicava com o moecano verde do filho tomate e por fim a bela tomata filha que dançava ao lado de Linda:

    -Eu pegaria você sabe? – disse a ruiva para a tomata que imitava seus movimentos – Se você não fosse um tomate. Porque acho que acabaria te mordendo, sabe? Você é tão vermelinha, suculenta, seria difícil resistir. As frutas vermelhas devem gamar.

    A bela tomata corou e nada respondeu, em vez disso começou a dançar ainda mais frenéticamente, motivada pelo elogio. Linda deixou-a de lado e foi ter com o tomatinho punk:

    -Cabelo legal. Já tive cabelo verde, as pessoas me chamavam de Maria Joana – contou.

    -Sou contra o sistema – protestou o tomate – está tudo errado! Só vou nessa festa idiota porque minha mãe mandou, por mim eu estaria num bate cabeça! - ele estava vermelho de raiva.

    -Mas num bate cabeça você não iria acabar virando molho de tomate? - Linda estava confusa com aquilo.

    -Não, sou contra o sistema – lembrou o tomatinho.

    -Ah é! - as coisas agora estavam mais claras – então você acredita em utopia?

    -Utopia? Eu sou é contra o sistema! Olha meu moecano!

    A ruiva olhou mas tudo o que sentiu foi fome. O vento se distribuia desigual, gelando partes esparças de seu corpo. Voltava a dançar quando a mãe tomate a chamou:

    -Me desculpe pelo meu filho, ele é apenas um jovem.

    - Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição – citou Linda.

    -Ele é apenas um jovem – recordou a tomata – ainda tenho que cortar suas unhas...

    -Vocês tomates são bem repetitivos – Linda irritou-se tanto que até parou de dançar. O som da música já não chegava mais até seu nariz, a paisagem fedia amargamente e seus poros expeliam raiva gasosa. - e além do mais, tomates nem tem unhas! Isso é errado! - Antes que a fissão dos átomos da garota se completasse no entanto o senhor tomate inteveio:

    - Minha cara, - deu uma tragada pomposa no charuto – O que existe é um conceito lógico, objetivo. Aplicando-se a ele os fatos, produtos de nossa experiência, temos as consequências e estas são subjetivas, não cabendo a ninguém, seja ele tomate ou ser humano, julgar, mas sim, entender. Se você procurar o certo e o errado tudo que vai achar é sua opinião, se é que tem uma. Viverá alienada na mediocridade. - o tomate concluiu seu raciocínio após soltar estrutura de um átomo na fumaça – Nós achamos extremamente estranho que humanos falem, ou que sigam todos uma mesma doutrina, que deixem os outros dizerem o que eles tem que fazer, contudo, respeitamos isso. Não acreditamos conhecer tudo e por isso sabemos mais. Temos a mente aberta para novas ideias. Por se acharem tão complexos não entendem que toda essa complexidade só gera ignorância. A utopia é simples.

    Porém, Linda ainda assistia ao átomo de fumaça se dissolver no ar e não deu muita atenção ao sermão, não precisava daquilo. Só redirecionou os olhos para onde andava, quando uma música estranha e distante, mas muito agradável tomou seus ouvidos. Pode ver algumas tendas se erguendo num clarão no meio do bosque. Uma placa indicava:

    BEM VINDO AOS CAMPOS DE MORANGO


    Música: Lucy in the Sky with Diamonds - The Beatles


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