-Café da manhã- anunciou uma voz conhecida.
Lyla abriu os olhos e viu um sorridente e incrívelmente limpo Johnny carregando cuidadosamente uma bandeija recheada de pães, bolachas, frutas, sucos e leite.
A luz da enfermaria brilhava nas paredes branquíssimas.
Os últimos cincio dias haviam começado assim: toda manhã o garoto ia a enfermaria e a mimava da algum modo:
-Não vou aguentar comer tudo sozinha – queixou-se a loira em seu irrestível charme.
-E quem disse que você vai comer tudo sozinha?
Lyla sorriu. Estava feliz. Quase havia morrido, mas estava feliz. Talvez algumas coisas ruins tenham que acontecer para que outras boas venham em sequencia; para quebrar a monotonidade de uma vida perfeita, da felicidade plena. Como alguém pode sorrir se nunca teve por que chorar? O bom depende do ruim e a felicidade da tristeza. Lyla havia acabado de descobrir isso.
Lembrou-se do sonho estranho que tivera enquanto ainda estava desacordada. Automaticamente sua mão tocou o pescoço. Sorriu. Apanhou uma maçã enquanto Johnny acendia um baseado:
-Pra abrir o apetite – explicou-se – Tenho boas e más notícias – anunciou num tom neutro – qual quer primeiro?
De repente a loira ficou séria. Não sabia o que se passava depois daquela porta. Sneer, Sofia, Charlie, todos eles vinham visitá-la sem, no entanto, falar algo de útil. Não diziam onde estava Linda.
-A boa – decidiu-se esperançosa.
-Quando acabar seu café-da-manhã você pode sair.
-Obrigado senhor doutor , já me sinto melhor mesmo.
Os dois riram.
Ela tentou se alegrar, porém estava preocupada demais com o que viria a seguir. Percebendo isso Johnny relatou:
-Cinco pessoas morreram, todos homens, foram dormir num dia e não acordaram no outro.
A tragédia fez Lyla engasgar. Sua pele tornou-se doentemente amarela. Onde estaria sua irmã? Estaria bem? Não se conteve e uma gota de orvalho escorreu da mais verde árvore em luto. Olhando pela janela pode ver que diferentemente do azul dos outros dias, o céu hoje era cinza e frio.
Por mais que as palavras insistissem em não sair, Johnny tornou a falar:
-Linda não é vista desde o acidente na pedra. Outros sete sumiram no mesmo dia – o garoto aproximou-se da cama na qual Lyla estava deitada em choque e tocou-lhe levemente a mão. Numa voz baixa que fez os pelos da nuca da loira se arrepiarem concluiu:
-Essa brincadeira ta ficando perigosa demais. É hora de ir pra casa.
Os olhos azuis dele e os verde dela se cruzaram. Sabiam que lá encontrariam tudo o que precisavam para seguir em frente. A boca carnuda de Lyla se moveu:
-Você tem um plano?
-Eu não sei por que vocês ainda me perguntam isso – e deu o baseado para Lyla dar a última tragada.
Música: Yellow - Coldplay