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79 - Linda
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010


Quando Linda chegou aos campos de morango a música cessou dramáticamente. Salvo o pai, a família tomate rolava animadamente na relva devassa. Contudo eles pareciam ser os únicos a se divertir por lá. Os convidados restantes , dentre os quais uma banana, estavam sentados num canto debaixo de uma tenda imoprovisada, quietos e apáticos. Não eram mais de dez.
Um grande desanimo tomou conta da ruiva, a música voltou entretanto não passava de um pagode vomitante que vinha destruir os miolos de todos ali. O céu escurecia numa rapidez colossal e a atmosfera ia se adensando, tornando-se pegajosa e pesada.:
-Que merda é essa? - Linda se dirigiu à Banana.
-Não sei, mas ninguém sai vivo daqui – lamuriou-se.
-Como você sabe, você é só uma banana! Nem vermelha é! - vermelha aliás era a palavra certa para definir Linda.
-Nós bananas não temos caroço amiga – e deu uma piscadela- agora que você é uma de nós não seria inteligente brigarmos. - A banana colocou um óculos fundo de garrafa.
-Bananas me falando de inteligencia! Onde fui parar? - e a ruiva saiu irritada em direção a um morango que jogava sudoku no celular:
-9 aqui – e apontou para uma casa em branco.
O morango seguiu obedientemente a instrução e o celular gritou mortalmente:
-EU VOU EXPLODIR SEU IDIOTA!
-Burra – chingou o morango.
Linda olhou mais atentamente o jogo. Eram apenas 20 casas, 7 delas preenchidas com o número 3.
-Faltam 13- concluiu a ruiva.
-Você é a oitava – concordou o morango.
-Desde quando vocês estão aqui?
-Chegamos ontem – o morango estava concentrado no jogo e nem levantava a cabeça para falar.
-E por que vieram? -ela não sabia quando fora ontem, só queria parecer simpática.
-Pelo mesmo motivo que você.
-Festa?
-É, pode ser – simpatia não era o forte dele, mas Linda não iria desistir.
-E quando vão embora?
-Quando morrermos.
-Vocês não querem ir embora? - ela estava confusa com todo aquele desanimo.
-Eles fazem isso conosco. Não fazemos o que queremos, fazemos o que eles querem. Sentamos e assistmos nossos destinos frustrados desfilarem medíocremente até se esvaírem na linha de chegada. Não pensamos, não discutimos. Concordamos calados com as palavras não ditas, com as imposições infundadas. Nossa sorte é que acreditamos em algo bom e justo que ocorrerá depois daqui. Isso serva de suporte para nossa burrice, isso sustenta nossa apatia. E daí se restringe nossa felicidade? Nunca iremos querer o que não sabemos que existe.
Antes que pudesse deixar de lado toda aquela bobagem o estrondo de um raio correu diretamente para os ouvidos da ruiva, que agachou-se agonizando próxima a uma parede singular. No mesmo insante a parede desabou em cima dela, porém nada aconteceu.
Sofria por isso. Já não estava mais fantasiando, mas a realidade ainda era distante. Presa no meio de suas próprias escolhas. Os sentimentos iam e vinham, sem nenhum permanecer, não conseguia sentir dor, nem raiva, não sentia afeto e muito menos felicidade. Seria a morte pior que isso?

Música: For No One - The Beatles

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