Andy bateu fortemente com os nós dos dedos na porta de madeira enconstada no final do corredor. O garoto ficara sabendo da confusão que ocorrera há poucos minutos entre as gêmeas e viera prontamente avisar Johnny, cuja a capacidade estratégica começava a deixá-lo abismado. Após ouvir um gemido vindo do outro lado, entrou cauteloso, afinal surpresas não eram incomuns quando se tratava de Johnny Fun.
E a surpresa veio.
Encontrou o garoto estirado num dos sofás, vestindo apenas uma cueca branca, traje este que permitia serem vistas tatuagens que Andy desconhecia. Chupava o dedão direito com a mesma voracidade que um bebê o faria. No outro canto da boca exibia uns três cigarros que queimavam lentamente. Apenas seus olhos se moveram na direção da porta:
-Tudo bem? - Perguntou Andy indeciso.
-Não, esses eram meus três últimos cigarros, estou tentando dar uma adeus digno a eles.
Vendo que Andy permanecia tentando entender a situação continuou como se nada ali fosse estranho aos bons modos e costumes:
-As coisas aconteceram como o planejado. Só não imaginei que tivesse ainda uma porra de um coração. Dizem que as drogas acabam com essa merda, essa era minha esperança.
-As drogas acabam com o fígado. - corrigiu-o Andy.
-É, com ele também. - resmungou por fim a figura patética que era Johnny.
-Então, já sabe de tudo? - o rapaz musculoso resolveu ir logo ao assunto principal. O ambiente começava a deixá-lo desconfortável, tinha pressa em sair dali.
-Não, creio que ainda falta a bosta da matemática. Nunca fui bom com aqueles porrinhas dos números que se acham tão felizinhos, bobinhos, alegrezinhos, saltitantezinhos, mas não passam de vítimas de um estúpido sistema, linear ainda por cima. - E riu, mas sua risada já não tinha a mesma alegria.
-As gêmeas tiveram uma briga feia. Tapas e tudo mais. Não tentaram esconder de ninguém. - sua voz abandonou o tom burocrático com o qual iniciara a frase e passou a um misto de curiosidade e respeito ao concluí-la - exatamente como você disse que aconteceria.
-Elas não são como as demais garotas. Carregam essa ideia ridícula de fidelidade. Patéticas. - explicou-se como um professor que ensina um aluno a resolver uma equação banal. - A isca está lançada, espero sinceramente que sobreviva. É uma bunda muito bela para ser jogada fora. - e riu novamente.
-A espera do seu sinal agora.- finalizou obedientemente Andy.
O garoto já ia saíndo quando a voz de Johnny o chamou de volta:
-Meu caro amigo, loira ou ruiva?- era a primeira vez que ele falava sério naquela conversa.
Sem muito o que pensar, o musculoso rapaz respondeu:
-No fundo as duas são loiras. - Virou-se e saiu, deixando o garoto seminu submerso em sua fumaça.
Música: Zero e Um - Dead Fish
1 Comentários:
"Só não imaginei que tivesse ainda uma porra de um coração. Dizem que as drogas acabam com essa merda, essa era minha esperança"
Essa é a esperança de todos, melhor parte, melhor frase.
Por Anônimo, Às 30 de agosto de 2009 às 15:56
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