As gêmeas saíram desabaldas da sala. Não sabiam o que pensar, não sabiam o que fazer. A falta de sol deixava o ambiente tão sombrio quanto o coração daquelas infelizes irmãs. Lyla subia as escadas rapidamente, como se o movimento espantasse de sua cabeça o que acabara de acontecer; à uma distância segura Linda a seguia. No quinto andar as duas finalmente pararam. Devido ao mau tempo, o lugar estava lotado, o que gerava um calor humano que aliado à fogueira acesa resultava numa agradável sensação de conforto. Se sentaram no único sofá desocupado. O choro ruidoso atraia olhares curiosos e assustados; obviamente a maioria ali pensava que outra morte havia acontecido, fato que nenhuma das duas se dispôs a negar, na verdade nem os mais indiscretos eram notados por elas. Após algum tempo de pensamentos vagos Linda falou: -Aquele filho-da-puta... - mas a voz fraca de Lyla a interrompeu antes que a ruiva terminasse o elogio. -Você poderia ter me contado – as palavras da loira causaram uma terrível indignação na irmã, que elevou a voz: -Te contado? Por que você não me contou? Agora Lyla também gritava, a discussão atraía cada vez mais espectadores: -Eu estava te protegendo! Mas você nunca irá entender isso, seu egoísmo não permitiria! -E agora eu sou a garotinha indefesa? Você sempre precisou de mais atenção, sempre foi a mais mimada! -Sempre abri mão de tudo por você, guardei seus piores segredos e escondi seus defeitos e veja onde chegamos por sua causa! - Ninguém agora fazia questão de disfarçar o olhar. Lyla estava desesperada, suas palavras saíam afogadas em lágrimas. Linda não chorava, sua face havia atingido um rubor quase tão grande quanto o de seus cabelos: -Minha causa? Me lembro bem do ano passado e não fui eu quem tirei todo o nosso dinheiro, não fui eu que pensei só em meus interesses, qual você acha que foi a causa da misteriosa doença do papai? - A ruiva parecia ter atingido um ponto crítico, suas acusações voaram certeiras para uma ferida ainda aberta, pois Lyla parou abruptamente; em seus olhos não havia mais lágrimas e sim dó, num ato impensado desferiu um sonoro tapa no rosto da irmã que imediatamente se levantou, com os cabelos bagunçados e lançados ameaçadoramente na testa franzida. Ainda murmurrou antes de sair: -Eu deveria saber – e se foi, abrindo espaço entre os curiosos que começavam a voltar à suas tediosas atividades. Somente Meyer que usara a distração para trapacear num jogo de cartas, parecia feliz naquela pesada atmosfera.
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