Sneer havia acabado de sair do banho. Seu roupão verde limão com bolas azul-anil deixava apenas sua cara pelada e suas canelas finas à mostra. Parou em frente ao espelho e após algumas caretas treinadas que o divertiam começou a arrumar a franja até que esta estivesse perfeitamente de acordo com seu gosto. Apanhou uma lamina de barbear e encheu desnecessáriamente a face de espuma. Cantarolava apaixonadamente “Have You Ever Seen The Rain?” enquanto fazia a barba inexistente, de modo que não ouviu os tímidos passos que se aproximavam. Sua mente vagava nos olhos de Sofia que insistiam em sair do azul profundo para um verde guaraná e tornar ao azul numa dúvida agradável. A lamina vagava inutilmente próxima à sua boca quando se materalizou atrás dele Meyer. O susto foi tamanho que forçou o objeto cortante mais do que seria aconselhável, ampliando ainda mais, com um corte sangrento, seu sorriso. O apelido de Curinga nunca lhe caíra tão bem. Após muita confusão, sangue e band-aids o acidente foi deixado de lado. Sentado na cama Meyer começou a se desculpar: -Não foi minha intenção milorde. Por favor, não me puna! - dizendo isso cobriu a cabeça com os braços, protegendo-se de um ataque que não veio. Em seu lugar um sorriso ainda maior que o usual. Sneer não culpava o garoto por ser tão atrapalhado. Até gostava, fazia-o sentir-se superior. Mas ainda o intrigava o que o trazia ali. Tratou de descobrir: -Tudo bem, tudo bem. O que você quer? A resposta confirmou suas piores suspeitas: -Johnny. Quer te ver. -E por que eu iria? -Ele disse que se você perguntasse isso era pra responder: é pelos velhos tempos – e imitou sem sucesso a voz boba e a cara desafinada de Johnny. -Velhos tempos? - aquilo estava ficando estranho. -Ele disse que se você dissesse isso era pra falar: o grande filho-da-puta e o Super Cicatriz estão de volta à ativa na missão de resgate da Índia Gorda. A menção daqueles três apelidos fez os olhos de Sneer se arregalarem. Olhou sonhadoramente para a janela tentando montar o quebra-cabeça, buscando respostas num passado saudoso. Mas como seria possível? A voz de Meyer tornou a soar: -Ele disse que se você pensasse nisso era para falar: no St. Jimmy tudo é possível. Eu acrescentaria que em Hogwarts e em Vegas também. - concluiu. Sem saber o que fazer nem pensar, o Curinga levantou-se e correu para a porta. Ao perceber que não estava sendo seguido virou-se para Meyer e deparou-se com uma cena no mínimo estranha. O garoto estava prestes a saltar da janela. Seriam 7 andares de queda. Explicou-se: -Se o Batman pode, por que eu não posso? -Quem disse que você não pode? Mas até Meyer percebera a ironia na voz de Sneer. Retrucou na mesma moeda: -Acho melhor você trocar o roupão antes, esse está sujo de sangue.
0 Comentários:
Postar um comentário