O clima no St. Jimmy era tão imprevisível quanto as atitudes de seus alunos. A única certeza que se tinha era a de que o sol nasceria ao raiar do dia e tornaria a ir embora em seu término. No entanto, não se podia afirmar veementemente que a luz chegaria a iluminar decentemente aquelas mentes necessitadas de brilho; não se podia dizer o contrário tampouco. Depois de muita secura no início do período letivo a chuva agora se revezava irracionalmente com sua ausência. As vezes chovia, as vezes fazia sol e as vezes o ceu nublava intensametne sem que no entanto uma mísera gota de água abençoasse o solo. O frio e o calor também mantinham o egoísmo e o preconceito de lado, dançando ironicamente uma quadrilha cujo único crime foi destruir o sistema imunológico dos mais necessitados. E esse era o motivo para que Lyla, Linda, Sneer, Sofia, Meyer e outros voluntários ficassem trancafiados na espaçosa enfermaria localizada no segundo andar. Havia leitos, mas nenhum deles estava sendo utilizado e provavelmente nem seriam, ao menos não em seu sentido usual. As paredes eram enjoativamente brancas e nada ali colaborava para dar um ar mais alegre ao local. A enfermaria era definitivamente sem graça. Os grupos de três pessoas se alternavam na função de distribuir o grande estoque de remédios conforme os sintomas de algum necessitado aparecessem. Ninguém ali era médico, mas podiam perfeitamente ler a bula. Era tudo muito entediante. O acidente no bosque comemorava seu aniversário de duas semanas mas ninguém ainda se preocupara em ir atrás de Johnny ou Andy, sendo assim os garotos continuavam nas sombras. Sofia, Sneer e Linda trabalhavam naquele momento. A chuva cessara e o sol ameaçava retornar. Excluindo-se os três não havia mais ninguém na enfermaria e provavelmente no terceiro andar inteiro. O trio ainda estava sem graça por causa do evidente triângulo amoroso. Sofia continuava a se encontrar com os dois, mas julgava ser a única a saber daquilo. Foi ela quem quebrou o silêncio destinado à eternidade: -Precisamos de uma festa. Desobedientemente, Johnny apareceu no pensamento de todos. Com ele por perto o tédio mantinha distancia. -Não precisamos dele pra nos divertir – resmungou Sneer – podemos muito bem fazer uma festa decente. -Precisamos de drogas – a voz agora era de Linda. As cabeças dos três se viraram imediatamente para a pilha de remédios do outro lado da sala: -O que você dizia, Linda? - perguntou o garoto com um sorriso triunfante. Era a primeira vez que os dois trocavam uma palavra na última semana, parecia o momento certo para que as coisas voltassem ao normal. Enfiou a mão no bolso de seu paletó vermelho-sangue listrado de bege e tirou uma caixinha – Johnny esqueceu algumas coisas no seu antigo escritório. Sinceramente acho que seria no mínimo imprudente darmos drogas à todos que vem aqui. Temos que pelo menos estarmos cientes de seus efeitos antes que cometamos tais irresponsabilidades. - concluiu Sneer. Linda e Sofia se entreolharam. A última anunciou perversamente: -Pelo bem da ciência... -Acho que não faria mal – completou a ruiva num raro sorriso. Mais tarde naquele dia Charlie procurou a enfermaria para tratar uma insistente dor de cabeça, mas na porta que indicava o local almejado havia uma colorida tempestade de cabelos em êxtase e de corpos sem panos. Deu meia volta e foi visitar Lichba.
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