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91 - Fibonacci
sábado, 24 de julho de 2010


-Pra onde estamos indo? - foi a primeira coisa que Sneer perguntou.
Os dois garotos praticamente corriam em direção ao prédio principal:
-Biblioteca – respondeu Johnny apressado, como se aquilo fosse óbvio. Sneer não achou isso:
-Biblioteca?
-É, biblioteca. Um bom lugar para se esconder as coisas e coincidentemente o lugar do primeiro assassinato.
Não havia muito tempo para palavras, por isso elas saiam esporadicamente:
-E você acha que Ele está lá?
-É só um palpite, mas é a única coisa que temos.
Sneer pareceu concordar, pois concentrou-se mais no trajeto que nas milhares de dúvidas que habitavam sua mente.
Nem um minuto se passou quando um grande estampido veio de onde eles se afastavam: tiros. Johnny parou:
-Merda. Será que...
-Não temos tempo, precisamos chagar logo na … - Sneer parou também. Mais três tiros.
-Você está certo – concordou Johnny tornando a andar – vamos, tenho certeza que tudo ficará bem, isso aqui sempre foi um grande clichê. A mentira foi finalizada ao som da última bala.
Mais um assunto se alojou no meio de tantos outros naquela noite traiçoeira. Quem seria Ele? Linda estaria viva? Ele estava com ela na biblioteca? O que mais havia lá, dinheiro? E no descampado, aqueles tiros... por mais egoísta que fosse admitir, torceram para que os alvos fossem os pobres alunos dopados, pois no fim, tudo o que podiam fazer era correr e torcer. A incapacidade corroía lenta e dolorosamente toda a esperança.
As árvores começaram a ficar esparsas e a magra lua tornou-se visível no céu nublado. No caminho até o alvo prédio principal, que a essa hora já dormia, foram mais poucos e ligeiros passos. Avançaram obstinadamente até a biblioteca.
O cheiro era forte. Algo gotejou na cabeça de Johnny e ele já provara aquilo uma vez: gasolina. O prédio estava infestado daquilo:
-Merda. Precisamos tirar todo mundo daqui, esse maluco vai por fogo em tudo – desesperou-se.
-Não enquanto ele estiver aqui – corrigiu Sneer. E aquilo fazia total sentido. Ele podia ser doido, mas não iria incendiar um lugar do qual não pudesse sair.
Johnny aquiesceu. Abriram a grande porta da biblioteca esperançosos. Tudo o que acharam foi um rastro de gasolina que obedientemente seguiram, até que subitamente o líquido sumisse, o rastro cessasse:
-Previsível, merda – praguejou Johnny.
-Que foi? - Sneer estava confuso.
-Foi aqui que a garota morreu, deve ter uma passagem por aqui, tem que ter uma passagem por aqui.
Sneer fitou a pesada estante. Estavam em química, um livro sobre Aristóteles estava caído no chão. No chão:
-Debaixo da estante, vamos empurrar.
Não foi preciso de força, como se tivesse rodas o móvel recuou ao menor toque, revelando um alçapão. Os garotos trocaram olhares, aquela parecia a hora:
-Tem algumas coisas que você deveria saber – pontuou Johnny, fazendo a adrenalina baixar e o suspense tornar a situação aterrorizantemente sombria – acho que Meyer é Ele.
-Como? - estranhou Sneer. Aquilo não era possível – Meyer não tem capacidade nem de matar uma formiga.
-Ele matou muito mais que isso. A primeira vez foi aqui, ele era parceiro da garota que morreu, fez todo aquele teatro e ninguém desconfiou. Depois foi Little e então no dia da festa mais dois. Eu, Charlie e ele eramos os únicos sóbrios na escola inteira, mas mais uma vez sua incrível capacidade cênica se sobressaiu. Semana passada morrem cinco no dormitório masculino por overdose do Elemento X cuja existência era conhecida por Meyer. E agora 8 pessoas são sequestradas, observe os números:
1-1-2-5-8
Sneer empalideceu.
-Fibonacci -balbuciou como se aquilo fosse tenebroso demais para ser dito em voz alta – só faltou o …
-Exatamente, só faltou o 3, o número de pessoas que ele matou quando me salvou no bosque. Queima de arquivo, ele afasta qualquer suspeita e ainda sai com a fama de salvador. Tenho que admitir que apesar de doido ele é muito inteligente.
-Um serial killer que mata na sequência de Fibonacci, seria engraçado se não fosse tão insano.
-Sinto muito, más terá que pensar nisso depois, não temos tempo. - Johnny olhou Sneer nos olhos – Pronto?
Um segundo de silêncio antecipou a resposta:
-Não e você?
-Jamais.
O garoto abriu a tampa do alçapão e os dois entraram na estreita e sombria passagem.

Música: Letterbomb - Green Day



Uma estrela a mais
sábado, 19 de junho de 2010


-Ela não está lá. Linda não está aqui no bosque – concluiu Johnny pouco surpreso, nenhuma cabeleira ruiva brilhava no descampado – eu deveria saber, agora tudo faz sentido – virou-se para Sneer que ainda estava processando a informação – você, venha comigo. Vamos voltar antes que seja tarde
Sem entender, o colorido garoto só concordou com a cabeça. Esperava receber mais explicações depois:
-Vocês três façam o que tem que ser feito. Vamos Sneer.
Os dois saíram apressadamente antes que qualquer pergunta pudesse ser feita. Quando sumiram de vista Sofia exclamou surpreendida:
-Tony. David vai matar Tony! Andy vem comigo, Lichba solte os outros – ela soava incrivelmente igual ao irmão.
David parou, havia ouvido vozes, as visitas haviam chegado. O primeiro a aparecer foi Andy, a seu lado vinha Sofia:
-Ora, ora. Quanto tempo! - saudou
-Larga ele – bradou Andy com a rouquidão de um urso furioso – não é ele que você quer!
-E você sabe muito bem o que eu quero! - zombou David. Ele tinha o poder, ele controlava a situação; um tiro e tudo acabava. Antes, contudo, iria brincar um pouco – você nunca soube nem o que você quer, passa o tempo todo vivendo no colo de Johnny, você é patético.
-Você quer Linda – cortou Sofia. Os semblantes mudaram diante da informação nova – ela me contou. Mas agora é tarde demais, então você tenta mergulhar todo mundo na amargura em que se afogou.
David aquiesceu. Ele tinha a arma, ele ditava as regras, ele dizia o que era verdade e o que não era:
-Você acertou uma coisa, eu não posso ter Linda. Ninguém pode, ela está morta!
Sofia gelou. Sentiu parte de sua alma fugir. A perspectiva de Linda morta era tenebrosa demais para ser aceitada, ainda que fosse totalmente plausível.
Ser forte era tudo o que ela podia fazer:
-Não David, você é que está morto. Ou pior que isso, não passa de uma perturbação que vaga infeliz – retrucou Andy.
-Seria demais pensar que vocês entendessem como é nobre minha missão. Eu e Ele livraremos o mundo dessas inutilidades. Vocês deveria nos agradecer em vez de ficar sustentando esse falso moralismo. Deveriam mais do que nos respeitar, nos venerar. Agora, porém, tudo o que resta a vocês é implorar – ele mostrou a arma – implorar pra que não tenham o mesmo fim que aquele monte de merda debaixo da tenda.
-Fim pior que o seu seria impossível. Incapaz de amar, incapaz de ser feliz e até mesmo de sofrer. Você não passa de um robô, um robô desprezível. - vociferou Sofia.
-Já chega – irritou-se David. Acabaria com aquilo tudo, cansara de discutir, era inútil. Eles estavam cegos demais para enxergar a verdade, teria que se impor – palavras erradas mocinha – vacilou um instante...
E disparou.
Tudo pareceu acontecer extremamente devagar. Sofia sentiu-se empurrada para o lado, os joelho se dobraram com o impacto e ela caiu na grama. Viu o ombro sangrando, mas não sentiu dor. Aquele ombro era largo e musculoso demais para ser dela. Andy. Andy a salvara, antecipara o ato, tomara o tiro em seu lugar. Ainda espantada viu o garoto se levantar como se nada tivesse acontecido. Viu ele se encaminhar lentamente até David, que largara Tony, deixando o garoto escapar assustado para longe. O alvo mudara. David disparou uma vez. E mais outra. O sangue voava do corpo furado de Andy, mas o garoto era implacável:
-Você está morto, você deveria estar morto – assustou-se largando a arma que não fazia efeito algum.
Os olhos de Andy não se moviam. Focavam fixamente os de David. Suas pernas continuavam a avançar, nada o deteria, ele precisava acabar com aquilo. Era o preço a se pagar pela paz.
Apanhou no chão a arma ainda carregada. David estava desesperado demais para correr, sabia que era a morte que ele via se aproximar, não adiantaria fugir, somente esperar. Ouviu sua voz:
-Não Dave – ele o chamara pelo apelido – você não percebe a ruína que se tornou. Você desabou por dentro, essa é a nossa diferença. Enquanto meu corpo morre, minha alma se mantém viva. A sua não passa de ruínas, vou te fazer um favor.
E disparou. Sem vacilar, sem temer. Sabia que era o que devia ser feito. O tiro acertou David no coração, levando embora aquele corpo vazio. Feito isso, os dois desabaram juntos.
Sofia estava paralisada. Correu até Andy, seus olhos negros ainda estavam abertos. Encarou-os com gratidão. Abraçou-o. Pode ouvir a voz fraca:
-Vou encontrar Litlle, nunca deixe o amor fugir. Serei feliz onde estiver, faça o mesmo por mim. Me prometa.
-Andy... - as lágrimas escorriam como chuva no céu ironicamente azul – Andy você me salvou, não vá!
-Há muito tempo nada mais me prende aqui, agora me prometa.
O abraço se desfez, os olhos se cruzaram:
-Eu prometo, eu prometo.
E ele se foi


Música: Endless, Nameless - Nirvana



89 - Linda
sábado, 29 de maio de 2010


Linda abriu os olhos aos poucos, as pálpebras pesavam. Não sabia como acordara nem por que acordara, contudo, sabia que acordara. Tinha a sensação de ter dormindo por muito tempo, presa num interminável e improdutivo pesadelo.
Não reconheceu o lugar onde estava. Ainda estaria no St. Jimmy? Ou ficara meses adormecida e agora estava num futuro, ou talvez presente, distante de suas últimas lembranças? Com alguma insistência David apareceu em seus pensamentos. Enojou-se. Lembrou da tenda e dos outros reféns, o que teria acontecido? E onde estariam todos? Sua irmã, Sofia, Sneer, Johnny, estariam bem?
Ela definitivamente não estava mais na clareira, porém, continuava amarrada, desta vez numa espécie de cama de pedra muito desconfortável.
Abriu um pouco mais os olhos e viu um vulto encapuzado, não muito alto e ligeiramente acima do peso, não conseguiu distinguir-lhe a face. Tentou fingir ainda estar dormindo, mas por um milésimo falhou:
-Ora, vejo que acordou lindinha – a voz não lhe era estranha, mas aquilo não seria possível – não tente me enganar, diga alguma coisa pra eu saber que você está bem – pediu.
-Me solte – disse a garota que agora observava com mais atenção o aposento. As paredes e o chão eram de pedra tosca e terra batida e conservavam uma aparência muito antiga, como um cinematográfico calabouço medieval. A cama de colchão ralo na qual se encontrava ficava espremida num canto. Havia uma velha mesa de madeira no centro, encima da qual se encontravam uma garrafa de cheiro estranho e uma caixa de fósforos que ela lembrava de ter visto na cozinha. O mais impressionante, no entanto, era uma uma pesada porta metálica que o seu sequestrador fitava deslumbrado. Sem desviar o olhar, Ele respondeu:
-Acho que isso serve. Você quer saber o que tem do outro lado lindinha?
-Vá se foder – respondeu rispidamente a ruiva.
-É, quem não quer, não é mesmo? - continuou a coisa, ignorando a mal-criação de Linda – eu mesmo só desconfio. Desde o primeiro dia venho tentando passar por aqui. Hoje, acredito que finalmente... - algo gotejou do teto, caindo diretamente no capuz da coisa, deixando sua voz aina mais triunfante – conseguirei. E você lindinha, vai ser minha testemunha, minha garantia de que como todo bom vilão, terei meu final feliz. Agora que você acordou, não acho que devemos perder mais tempo.
A coisa se encaminhou até ela e desamarrou a corda que a prendia, revelando feridas profundas, sequelas do tempo que passara presa. Ainda que fosse difícil de imaginar, Linda estava mais magra e sentia-se muito fraca. Tinha a aparência da morte. Ele pegou-a pelo braço sem dificuldade,deixando acidentalmente o capuz cair. Foi contemplando aquelas feições loucas que as suspeitas da ruiva se confirmaram. Qualquer indício que os outros sentidos pudessem captar eram espantosos, mas quando os olhos confirmaram, o terror neles se instalou.
Ele tirou o capuz:
-Sim, sou eu, sempre fui. Eu matei a garota na biblioteca, eu matei aquela japonesa inútil, eu matei a todos e vou continuar matando. Essa é a minha missão, eliminar os fracos, levando junto todos que se oponham a isso – ele caminhou até a porta arrastando Linda junto. Com a outra mão tirou uma grande chave dourada do bolso – essa é a sua chance de provar que não merece ser usada de fogos de artifício. Que merece ser grande ao meu lado.
Linda hesitou pela primeira vez. Ver a cara de quem lhe falava acabara causando uma descarga de realidade, talvez ele estivesse certo. Ninguém estava ali pra ela. Precisava de sua irmã, de Sofia, de Sneer e até mesmo de Johnny, mas eles provavelmente estariam em algum outro lugar, fazendo alguma outra coisa, tentando superar a suposta morte dela. Se sentiu só, insegura e morria de medo. Esqueceu-se do que David tinha feito, aquele era um problema entre eles, era terrível sim, mas valeria a pena morrer pelo que é certo? Nada fez. Observou quando ele introduziu esperançosamente a chave dourada na fechadura e girou-a. Ouviu o clique da tranca indo embora. A porta se abriu e seus olhos brilharam:
-Terra – disse a voz esganiçada de Meyer.


Música - What if - Coldplay



88 - (NH2)2CO
segunda-feira, 24 de maio de 2010


Apesar de ser solitária e fraca a luz da lanterna, Tony seguia sem dificuldades a trilha que Johnny lhe indicara.
Quando se está sozinho numa floresta escura, rumando deliberadamente ao perigo, é inevitável que não se serpenteie nas ideias toda uma sincera análise do que se foi e do que será. Nunca fora popular, nunca tivera amigos, namoradas ou qualquer coisa de especial, se não um inquestionável dom com computadores. Aos dezesseis anos Tony já havia desenvolvido mais softwares que 60% das empresas do ramo e com isso ganhara muito dinheiro. O destino da fortuna? Sua segunda paixão, Deus. Talvez por uma combinação das duas ele se encontrava ali agora, mais uma vítima mergulhada na loucura do St. Jimmy. Desrespeito aos valores morais, falta de companheirismo, falta de amor ao próximo, caos social, descomprometimento total com a tradição puritana; uma bomba e um assassino. As causas e as consequências eram facilmente confundidas na tempestade. Tempestade que por obra divina fizera vir cair em sua mão uma novíssima nota de cem, uma linda e meiga garota de cabelos laranjas e charmosas sardas. Tinha certeza, o amor e a palavra do Senhor o tornariam invencível e o bem triunfaria. Ele iria pegar o serial killer- que por maior que fosse a redundância , Tony só se satisfazia adicionando a ele o adjetivo louco- iria achar a bomba e como em seu mais divertido passatempo iria desarmá-la. E depois disso tudo iria conquistar o amor, ah o amor. Por vezes isso, por vezes o medo faziam suas pernas tremerem enquanto ziguezagueava, ondulando a grama, pelas plantas a observarem-no e sussurrarem com a a ajuda do vento:
-Boa sorte.
Um ponto luminoso foi tornando-se cada vez mais distinguível conforme Tony avançava. Inconfundível foi a voz:
-Quem é você?
-Sou Tony – respondeu prontamente conforme o ensaiado – Travis me mandou. Pediu para avisar que não vai poder vir, parece que Ele tem outros planos pra ele. Disse que você me diria o que fazer.
David não parecia convencido, fitou atentamente o garoto que lhe viera: ligeiramente acima do peso, provavelmente judeu, era quase tão inútil quanto um Meyer, não parecia ser do tipo que Ele aprovaria. Seria mais um dos planos bobos de Johnny? Farejou o ar. Fedia como tal:
-Não há nada para fazer aqui até que apareça algo para fazer e caso apareça não acho que você vai ser muito útil.
-Tudo bem, eu posso ficar, não se preocupe. Posso te fazer companhia – que desculpa era aquela? Pífia sem dúvidas, mas o fato de Tony estar prestes a delegar ao comando do sistema nervoso parassimpático o controle de sua bexiga era um bom argumento.
Como uma aranha- que tem sua vítima totalmente dominada, esperando a inevitável morte, presa à teia - David se aproximou do menino que estava prestes a se mijar, era hora de digerir sua refeição. Num tom de voz que o fazia divertir-se por dentro sibilou:
-Eu não me preocupo. Eu não confio em você e a não ser que Ele diga alguma coisa diretamente para mim, não confiarei. Se quiser ficar, fique, não ouse, no entanto falar comigo, me olhar ou sequer pensar em mim. Não preciso de você. Se me desobedecer, vai fazer companhia àqueles filhos-da-puta ali.
Tony viu os alunos amontoados do outro lado tenda. Tende piedade deles senhor, pensou antes de engolir em seco e sair trêmulo para sentar-se num canto. Precisava pensar. Tudo havia dado errado. Só lhe restava orar. Isso foi o que pensou antes de ouvir a seu lado uma arma ser engatilhada. O garoto a seu lado sorriu diabolicamente:
-Eu disse para não pensar em mim. E, além do mais isso aqui – balançou a arma sorrateiramente – está pesando no meu bolso há algum tempo, implorando para ser usada. Não acho que uma bala vá fazer falta.
Tony sentiu o cano gelado encostar em sua testa. Viu a insanidade nos olhos de seu assassino, em momento algum duvidou das palavras dele. Os pensamentos voaram, queria agradecer Deus por tudo que lhe dera, mas foi numa graciosa ruiva que sua mente foi parar. Ainda ouviu David zombar:
-Faça seu último pedido cowboy!
Agora era oficial, e o cheiro de urina denunciava isso.


Música: Enter Sandman - Metallica



87 - Um garoto chamado Taylor
segunda-feira, 17 de maio de 2010


O sol começava a ir embora, em breve a beleza de seu poente daria lugar a uma assustadora paisagem composta por escuridão e incertezas. Era nessa hora que Travis deveria atravessar a floresta e substituir quem quer que fosse que estivesse vigiando os pobres prisioneiros.
Com uma alegria incomum para aquela situação o garoto se embrenhou na mata despreocupado, Ele prometera que aquele seria o último dia de Travis como capanga, depois disso o garoto só precisaria pegar o dinheiro combinado e esperar tranquilamente aquela loucura do St. Jimmy acabar. Travis era um menino forte e se considerava inteligente o suficiente para saber que a vida dali para frente seria mansa. Deixou-se levar pelo devaneio e quando a mente deixou de vagar estava em alguma praia de mar transparente com duas belas garotas nuas a seu lado:
-Ah – foi tudo o que conseguiu dizer para a mata que se fechava a sua frente.
Voltou a pensar no que o esperava. De certo modo sentiria falta dos coitados que ali estavam. Nunca falara com nenhum deles, nem ao menos os vira acordado, mas passara esses últimos dias em constante contato com aquela inerte e estranha pilha humana. Esperava sinceramente que eles não morressem.
Precisava, no entanto, preocupar-se consigo mesmo, por isso abandonou os pensamentos de piedade. A escuridão já tomara forma e o único jeito de se orientar na mata era por uma discreta trilha que seguia diretamente pra clareira.
Insetos e outros animais insistiam em dar a caminhada um suspense desnecessário na opinião dele. A cada farfalhar de folhas ou partir de galhos Travis olhava assustado para trás, a procura de seu perseguidor imaginário. E ele veio.

Como se tivessem se materializado da árvore, dois braços o agarram firmemente, fazendo seu coração imediatamente disparar. De algum outro canto escuro um punho surgiu e o atingiu covardemente no estômago. Travis curvou-se e, quando a dor amenizou-se o suficiente para que a lucidez retomasse o comando, deu-se conta de que estava com os braços amarrados e com uma cara que, mesmo com a pouca luz, era incrivelmente pálida, colada na sua:
-Travis, Travis meu amigo – começou a voz prepotente de Johnny Fun – você está com vontade de nos ajudar não é mesmo?
O garoto nada disse, a dor em sua barriga ainda era forte o bastante para impedir-lo de falar:
-Tudo bem – continuou Johnny – nós já sabemos de tudo mesmo. Você só precisa ficar ai quietinho, depois resolvemos o que vamos fazer com você. Seria gentil da sua parte nos desejar sorte.
Travis reuniu a pouca dignidade que ainda não fora vendida e cuspiu no chão em sinal de desprezo:
-Isso basta – agradeceu Johnny – agora Sofia, você e Charlie se importam de fazer companhia para o gentil cavalheiro?
-Nem fodendo – Travis ouviu a voz da garota cortar – eu vou atrás de Linda.
-Sofia... - implorou Johnny com as palavras não ditas. Era bom saber que existia alguém nesse mundo a quem ele não manipulasse.
-Gavin, eu vou atrás dela e você não vai me impedir – apesar de Travis não conhecer nenhum Gavin, aquilo pareceu encerrar o assunto pois Johnny conformou-se:
-Ok, Charlie, você acha que consegue cuidar do nosso amiguinho?
-Tudo bem – tranquilizou a voz de Charlie – agora vão que já se passam das oito.
Travis só pode observar Lichba, Andy, Johnny e a poderosa Sofia seguirem a mesma trilha que ele seguiria. Ah, que bela garota aquela Sofia! Temia estar apaixonado.


Música: Longview - Green Day



86 - E a culpa é toda sua
sábado, 1 de maio de 2010


David entrou na sala escura sem ter certeza por que fora chamado ali. Tradicionalmente a convocação se dava quando alguém cometia uma falha e merecia ser punido. Fato que não se aplicava a ele, sua fidelidade era tão inquestionável quanto sua eficiência. Ainda assim teve medo. Quando aquela famosa voz agonizante falou, um frio cortante percorreu a espinha do garoto:
-David, precisamos conversar. Acho que isso é óbvio até mesmo para você – houve silêncio e Ele continuou – até o momento matei todos aqueles que eu queria matar, fiz justiça sujando unicamente minhas mãos e isso faz de mim, aos olhos burros da grande maioria, um serial killer.
Apesar do calor abafado da pequena sala escura David estava intensamente gelado. Sentiu uma corajosa gota de suor descer ziguezagueando por suas costas malhadas quando a voz, como uma navalha muito afiada, voltou a cortar o ar:
-Hoje contudo caí em grande e indissolúvel contradição: tenho aqui várias suculentas e inúteis vítimas para fazer; tenho também que correr atrás de meus próprios assuntos. Diante de tal paradoxo você surgiu como minha mais racional saída – de repente David havia perdido o controle dos próprios músculos, mais alguns segundos e se mijaria inteiro – você tem sido o meu braço direito em meio a esses babacas mongóis – continuou Ele – e vou confiar a você essa missão. A ruiva está pronta?
Como se uma descarga elétrica percorresse seu corpo o garoto voltou a si. A bateria em seu peito diminuíra o ritmo e ele podia sentir suas pernas novamente. Afinal as coisas não seriam tão ruins, poderia até dar o fim merecido àquela ruiva metida. Com a voz ainda pouco firme confirmou:
-Ela está dopada, ainda deve dormir por umas quatro horas...
-Perfeito! - cortou Ele, enquanto batia palmas histéricamente -Precisamos ser rápidos. Você vai me ajudar a levá-la até o castelo e depois vai voltar pra cá. Temo que vá receber uma visitinha; mate todos, amigos e inimigos. Vou lhe deixar essa arma aqui, contém 21 balas, calculo que deve ser o suficiente. Quando acabar o serviço me encontre na entrada do bosque, de lá poderemos saborear o show e planejar nosso futuro, juntos. - ao terminar de falar, estendeu a pistola carregada.
David pegou-a temeroso. Estava confuso. Ele não ficaria com Linda no fim de tudo? Teria que arriscar a vida contra meia duzia de justiceiros baratos e depois ir correndo até Ele. E o que Ele queria dizer com juntos? Aquilo estava ficando estranho, mas não ousou questionar, estava suficientemente feliz por manter-se vivo, pensaria naquilo depois que tudo acabasse.
Levantou-se com as pernas ainda bambas e saiu da pequena sala de madeira improvisada no meio da mata. Foi até a tenda branca na clareira e encontrou a ruiva, cujas raízes do cabelo tornavam a serem loiras, inconsciente e numa posição extremamente desconfortável. Sentiu prazer em vê-la assim depois de tudo o que havia acontecido entre os dois. Agachou-se próximo a ela e numa voz ameaçadora murmurou:
Parece que você vai ser útil no fim. Vai morrer mas vai ser útil – fez uma pausa como se esperasse uma resposta que obviamente não veio – eu te amava sabe? Aquelas tardes escondidas me faziam feliz. Mas aí você se apaixonou por aquela lésbica burguesinha e partiu meu coração. A culpa é sua por eu ter me tornado o que me tornei. Você me abandonou, eu estava com raiva de tudo. Eu te amava, eu te amo, porra! - uma lágrima escorria por aqueles traços tão perfeitos – eu tive que me transformar nisso. Um traidor pois fui traído. Meus sentimentos estavam todos errados então tive que transformar o errado no certo. Só assim me convenci de que a vida ainda fazia algum sentido – a voz agora desesperada saía afogada pelas lágrimas que corriam sem censura – a culpa é toda sua. E eu te perdoo, mas para seu azar já é tarde demais pra você, assim como foi pra mim. No fim parece que o que você faz sempre acaba voltando. O fogo que aquecia meu coração me queimou, tive que apagá-lo ainda que por isso eu passe frio. Que eu me tornasse frio. Que eu seja nada mais que uma pedra, sem esperança, sem sentimentos. É o preço pela existência e você não pagou o seu; você apagou o seu. Fez tudo dar errado. A culpa é sua e eu ainda te amo tanto quanto minha mente cristalizada pode amar. Sei que sou duro, estático, imutável. A vida me fez assim. O que aqui está não sai e o que não está não entra. Ainda há amor aprisionado. Amor e desgosto, amor e raiva, amor e um vazio enorme que você deixou e que foi preenchido com um líquido amargo e degradante. E a culpa, meu amor, é toda sua. Morrerás, morrerás minha querida.
David deu um beijo na boca inerte da ruiva. A indiferença cobriu suas palavras. Beijou-a outra vez e deixou que suas lágrimas escorressem pelo corpo de Linda:
-É hora de ir – anunciou Ele a poucos passos de onde o casal estava. Por quanto tempo estivera ali e o que teria visto? Era tarde demais para se preocupar com isso.
David virou-se e ao ver a figura que o encarava teve um choque. Não era a primeira vez que O via, mas nunca imaginara que ele fosse Ele. No fundo esse fato só aumentava o respeito do garoto por Ele. Se recompôs da surpresa e desamarrou a garota. Pegou-a no colo pela última vez, adentrando novamente o bosque, sentindo o peso de seus esforços não retribuídos em seus braços. Era uma pena que tudo tivesse que acabar daquele jeito. Era uma pena que tudo tivesse que acabar. Tinha a chance de mudar tudo aquilo, a arma em seu bolso estava carregada e com um tiro poderia dar outro fim àquela história.
Havia a tentação. Faltou coragem, faltou força.
Morrerás minha querida, morrerás. E a culpa é toda sua, pensou por fim.


Música: Die Die My Darling - Misfits



85 - Lyla e Johnny
quinta-feira, 22 de abril de 2010


Johnny passava as instruções finais para o garoto que não conseguiu uma desculpa decente a tempo de escapar. Lyla o observava por trás da franja dourada que insistia em lhe cair sob os verdes olhos. O garoto estava estranho, pensou consigo, muito gentil e agradável; não que não o soubesse ser, essa era a base inicial de qualquer conquista a qual ele se dispunha e ela sabia disso melhor do que ninguém, contudo ele se recusava a avançar, chegando ao ponto de figurar mais como um bom amigo do que como um namorado. Secretamente ela estava gostando disso, era bom poder saber que Gavin ainda não morrera dentro de Johnny. E esse foi o motivo do sorriso quando ele se aproximou após ter terminado o diálogo com o temeroso voluntário:
-Você não vai usar aquele menino, não é mesmo – supôs a loira.
Foi a vez de Johnny sorrir, ele havia sido decifrado:
-Não, eu aprendi a lição. Ele só quer se mostrar pra aquela ruiva gordinha lá no canto – e apontou para uma garota ligeiramente acima do peso com a qual o menino conversava timidamente.
Lyla nada disse. Se perdera na faísca azul de sinceridade que se retornara aos olhos felinos de Johnny. Por alguns segundos ela pareceu estar em casa:
-Não se preocupe. Nada vai acontecer com Linda – era como se ele tivesse lido os pensamentos da loira. Ela sabia que a segurança da irmã estava longe do alcance do garoto, porém ouvir aquilo quase tranquilizou-a – Tem mais uma coisa – retomou ele agarrando as mãos que Lyla havia depositado nos joelhos cobertos pela saia rosa – não acho que você deva ir...
Ela fez menção de protestar, mas o Johnny não permitiu:
-Eu sei. Eu sei que ela é sua irmã e ninguém aqui se importa com ela mais que você. Mas não é seguro! Você ainda está fraca e pode ser perigoso demais. Não quero ter mais uma preocupação em minha mente enquanto formos resgatá-la.
-Você não precisa se preocupar comigo – ela não entregaria aquilo facilmente.
Houve uma pausa de míseros segundos, o suficiente para tornar ainda mais fofa a voz de Johnny:
-Eu vou me preocupar com você e nada vai mudar isso –ele pode sentir as mãos da garota apertarem mais fortemente as suas – Por favor, eu preciso de um bom motivo pra voltar.
E as águas daquele verde mar se tornaram mansas. A maré puxava carinhosamente Johnny e o som das ondas estralava em sua boca. Pela primeira vez na vida ele fora beijado, aquilo devia significar sim.


Música: If you don't, don't - Jimmy Eat World